O diálogo foi durante um encontro casual que tive com o combativo parlamentar. A frase era referente ao período de denúncias de corrupção na administração pública tupãense. Apesar de seus relevantes serviços prestados, sequer o município decretou luto oficial.
O falecimento do Dr. Manzano passou em branco pelas repartições públicas municipais. Na Câmara, a maioria afirmou que ficou sabendo através das redes sociais.
O prefeito não decretou luto oficial. As bandeiras seguiram hasteadas normalmente até a tarde desta segunda-feira, dia 12, ignorando a bravura de um homem a serviço de uma sociedade que desconhece seus verdadeiros heróis.
Dr. Manzano foi combativo. Esbravejava toda segunda-feira, durante as sessões, como um lobo solitário numa luta inglória contra os desmandos administrativos. “Pensava que estava ficando louco ao imaginar que apenas eu estava vendo essas barbaridades acontecerem em nossa cidade”, disse.
Dr. Manzano faleceu aos 80 anos, neste fim de semana. Seu corpo foi velado no Memorial Tamoios e, cremado em seguida, conforme era seu desejo.
PONTO ALTO
Auge do governo Lula. O pico mais alto de um dos períodos sombrios dos bastidores políticos do Brasil. A corrupção campeava nos Poderes Constituídos, enraizada de cima para baixo como nunca visto antes.
O PAC – Plano de Aceleração do Crescimento transformou-se num verdadeiro sinônimo de Plano de Aceleração da Corrupção. Promessas de grandes obras pelo país, sobretudo, pelo interior do Brasil.
Tupã foi contemplada de toda a sorte. Desde a liberação de verbas suntuosas, como a proposta de R$ 75 milhões para a macrodrenagem, até a indicação de integrantes do “staff” petista para cargos de secretários na administração municipal.
Os oportunistas, lobistas e corruptos foram se fortalecendo e crescendo dentro dos pequenos municípios. Dinheiro não faltava. Para o prefeito receber a verba só precisava concordar com o projeto da empreiteira do próprio esquema político armado para assaltar os cofres públicos.
Tupã foi sede de encontros políticos com propostas de gordas propinas envolvendo empreiteiras ligadas à máfia do asfalto, da coleta de lixo, de compra de equipamentos para a saúde, entre outras, que proliferaram num terreno fértil para sanguessugas.
MODUS OPERANDI
Na mesma proporção das denúncias agora conhecidas pela opinião pública contra o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, como as de lavagem de dinheiro, corrupção, aquisição de bens em nomes de laranjas, e de obtenção de benefícios como reformas de tríplex, propriedade rural, e etc., assim também denunciava o blog sobre o mesmo modo de operação praticada por agentes políticos tupãenses.
Sem nenhuma investigação que de fato intimidasse os agentes políticos tupiniquins, o patrimônio de alguns cresceu na mesma proporção em que verbas eram liberadas pelo DADE – Departamento de Apoio e Desenvolvimento das Estâncias Turísticas, Ministério do Turismo, Ministério de Infraestrutura e das Cidades, entre outros.
Ao final, nos contentamos com praças maquiadas e um pacote de 33 obras irregulares como herança. Ainda hoje os desmandos refletem no desempenho econômico e social do município. A máquina administrativa ficou truncada, e a possibilidade de a prefeitura ter que devolver mais de R$ 40 milhões pela não finalização da macrodrenagem assombra o prefeito José Ricardo Raymundo (PV).
DESDOBRAMENTOS
Os desdobramentos de um ciclo de enriquecimento ilícito de agentes políticos em Tupã também foram sentidos após os dois mandatos de Waldemir Gonçalves Lopes (PSDB). Com uma administração terceirizada, Manoel Gaspar (sem partido) permitiu que alguns esquemas fossem propagados em seu terceiro mandato.
Seu principal interlocutor, também intermediou conversas de seu antecessor. Saiu no braço com o “braço” direito de Waldemir durante disputa por propina. Enquanto isso, empreiteira reformava casa de secretário e deixava obra pública inacabada.
Mentiras, orgias em mansões regadas com champanhe importado, prostitutas de luxo para agradar figurões da política brasileira, e despesas nababescas custeadas com dinheiro público faziam parte da rotina dos bastidores políticos.
Da mesma forma cresceram nas entranhas do poder as fraudes em concursos públicos para beneficiar agentes políticos que faziam parte do núcleo duro da governança.
A disputa por uma vaga era discutida abertamente em salas, enquanto provas de concurso eram corrigidas na sua origem para beneficiar os interessados. Em seguida, tudo era incinerado em propriedade particular.
A VOZ
Na Câmara, uma única voz se levantava contra tudo e contra todos os desmandos – a do Dr. Manzano. Valdemar Moreno Manzano (PDT). A maioria de seus votos vinha da periferia. Em sua última participação como candidato a vereador, em 2012, foi eleito suplente com 556 votos.
Foi numa manhã de domingo, Dr. Manzano me encontrou e disse: “Pensava que eu era louco, por que não era possível que apenas eu enxergava o que está acontecendo em Tupã, mas agora vejo que você também tem percebido e tem divulgado”.
Além do blog, Dr. Manzano foi combativo contra as fraudes em licitações, concursos públicos e atos de corrupção nas legislaturas de 2005/2008 e de 2009/2012, 14ª e 15ª legislaturas respectivamente.
Ele já havia sido eleito em outras duas ocasiões: Legislaturas 10º e 11º, de 1991 a 1992 e de 1993 a 1996, respectivamente. De 1991 a 1992 presidiu a Câmara de Tupã. A voz calou-se da tribuna livre.
Apela-se para o pessoal do WhatsApp e do Facebook para impedir que os corruptos retornem ao poder nas eleições municipais de 2020. Também foi na manhã deste domingo, dia 11, que me deparei com a informação sobre sua passagem e me recordei da frase – “Pensei que estava louco”. Tupã perdeu um guerreiro.
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