Por: Jesus Guimarães
Mal havia tomado posse como prefeito de Tupã, em 1983, fui a Brasília para tentar, junto ao Ministério do Desenvolvimento Urbano, a obtenção de recursos que nos ajudassem a barrar a terrível voçoroca que separava a zona leste do resto da cidade.
Pernoitei em um hotel e na manhã seguinte tomava meu desjejum e repassava na memória os argumentos que haveria de usar perante o ministro quando um rapaz engravatado, quase sem pedir licença, sentou-se à minha mesa. Era representante de uma “consultoria” especializada em conseguir verbas públicas junto aos ministérios. Sabia meu nome e que era prefeito (sic).
Garantiu-me que se preiteasse verbas por seu intermédio elas seriam integralmente liberadas e em tempo recorde. Quando lhe disse que os recursos pretendidos serviriam para combate à erosão, tentou convencer-me de que melhor seria solicitar para obras na área da educação, vez que nesse setor conseguiria melhores resultados.
Perplexo, argumentei que não era o caso, nem projetos eu tinha nesse sentido e o sujeito logo sacou da pasta um projeto padrão para construção de escolas, bastaria eu assinar.
Loucura total.
Pelos serviços prestados, do montante conseguido eu deveria repassar 30% para a tal consultoria que ele dizia pertencer a um Almirante da República, daí o prestígio que desfrutava junto ao então presidente general Figueiredo.
Quando, já sem paciência, recusei as propostas do malandro, tentou acalmar-me dizendo que, claro, daqueles 30%, dez seriam meus por “direito e merecimento” (sic).
Ainda estávamos na ditadura militar, o chefe do governo era um general, porém o trambique corria à solta debaixo de seu augusto nariz, aquele que preferia o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo.
Quase 40 anos depois, um governo francamente militarizado, com o mesmo discurso de honestidade, reedita os vícios do passado: lobistas intermediando verbas oficiais, desta feita, na pele de pastores evangélicos. Não pedem 30% da verba, mas um quilo de ouro, enquanto o ministro da área coonesta a operação a pedido, como declarou, de sua Excelência, o presidente da República.
E, como no passado, nada acontece.
Jesus Guimarães é professor, bacharel em direito, funcionário aposentado do BB e ex-prefeito de Tupã.
E-mail: zuguim@uol.com.br
Fonte: Diário
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