A saída da arquiteta provoca a segunda baixa na administração de Ricardo. Pesou para sua decisão de deixar a pasta, o fato de que fracassou na sua previsão de sucesso.
Sete meses depois da fatídica “coletiva”, em 10 de janeiro, a arquiteta Jeane Rosin dá adeus a fantasia de “passar a limpo” todas as irregularidades em obras da administração de Waldemir Gonçalves Lopes (PSDB), e abandona o projeto de Ricardo Raymundo (PV). Nomeada como super secretária de Desenvolvimento Urbano, Jeane Rosin era a principal aposta do atual governo para destravar cerca de 30 obras apontadas como irregulares e sob investigação do Ministério Público (MP).
Nos últimos seis meses, a profissional trabalhou em silêncio. Nos bastidores deixou muitos trabalhadores descontentes que tiveram seus eventuais direitos suprimidos. Um deles comemorava a saída da secretária. “Ela pensa que nós não sabemos das coisas que ela já fez e faz”, observou um funcionário público que não se identificou temendo represálias.
Estilo sargentona no trato com os trabalhadores, e até mesmo durante questionamentos da imprensa, Jeane Rosin personificou a rispidez de seu ex-chefe a quem chegou defendendo das irregularidades em obras públicas. “Se tivesse irregularidade, eu e o ex-prefeito não estaríamos presos?”, questionou durante entrevista logo após sua posse nesta administração.
Segundo informações do secretário de Governo Moacir Monari, a Jeane Rosin recebeu uma proposta para ser professora titular em uma universidade em Cuiabá-MT, anunciou o portal MaisTupã. Ainda não há nomes possíveis para substituí-la. Cogita-se extraoficialmente o nome de um colaborador de campanha – o engenheiro Miguel Scarpelli.
A saída de Jeane Rosin provoca nesta semana a segunda baixa oficial para a administração de Ricardo Raymundo. A primeira foi a esperada ida do vereador Charles dos Passos (PSB) para a oposição, logo após deixar a bancada do partido e até as Comissões da Câmara Municipal.
INVESTIGAÇÃO DO MP
A propósito, o presidente da Câmara, Valter Moreno (DEM) confirmou hoje (1), que esteve recentemente prestando novo depoimento sobre os processos investigados pelo MP. Ele presidiu a Comissão Parlamentar Especial (CPE), que realizou as diligências para reunir provas sobre o maior esquema de irregularidades da história política tupãense.
Trinta e três obras, das quais, mais de duas dezenas seguem estagnadas e consumidas pela ação do tempo causaram milhões de prejuízos aos cofres públicos. Jeane Rosin era a arquiteta que comandava a Secretaria de Planejamento e Infraestrutura nos governos 2005/2008 e 2009/2012.
Após seis anos de suas duas administrações, Waldemir anunciou um pacotão de obras no município, entre elas, a famigerada macrodrenagem. Segundo Jeane Rosin seria a redenção do problema de alagamentos em Tupã. R$ 25 milhões de um montante de R$ 75 foram viabilizados através do PAC – Plano de Aceleração do Crescimento, e na próxima chuva torrencial o cidadão tupãense vai verificar outra vez o efeito do descaso com o dinheiro público.
Além desta obra de vulto que deixou um rastro de falhas técnicas e irregularidades e suspeita de desvios, piscinões provocam transtornos aos moradores vizinhos, enquanto os ribeirinhos têm suas casas ameaçadas pela erosão do Córrego Afonso XIII.
Aditamentos sem obras executadas superfaturaram valores contratados. Algumas empreiteiras decretaram falência, e boa parte do dinheiro desapareceu. Em apenas duas delas –, Arena de Multi Uso, nas proximidades do recinto da Exapit e Parque Ecológico margeando o Córrego evaporou aproximadamente R$ 1 milhão em supostos serviços de terraplanagem.
A arquiteta que à época era responsável pelas obras preferiu omitir-se, enquanto a turismóloga Aracelis Góis Morales assinava como arquiteta documentos viciados da construção do Espaço das Artes. “Isso é comum na administração pública, assinar documento sem ler” admitiu o suposto relapso, Jeane Rosin.
Nos últimos dias, além do atual presidente da Câmara, o MP tem ouvido depoimentos do ex-prefeito Waldemir, Aracelis e do arquiteto Valentim Bigeschi. O engenheiro José Roberto Rasi – responsável por aferir as obras, assinava documento afirmando a execução de serviços que não tinham sido realizados.
Apesar de tudo isso, Waldemir convocou a imprensa, seus secretários, entre eles, Jeane Rosin para “provar” de que não existia nenhuma irregularidade nas obras do Espaço das Artes. A arquiteta Jeane, que não assinava documentos exatamente por temer um eventual envolvimento nas ilicitudes constadas pela CPE, colocou capacete e confirmou a inexistência de qualquer problema nas obras públicas.
Em uma das matérias divulgadas pelo blog, houve uma estimativa de que as obras irregulares podem ter causado prejuízos de R$ 40 milhões ao contribuinte tupãense. A CPE também projetou em mais de R$ 30 milhões.
Hoje, o município segue travado, impossibilitado de receber mais recursos para finalizar estas obras, não possui disponibilidade financeira própria para arcar com as despesas, e não vai conseguir mais recursos novos para obras de infraestrutura por conta de todas as nefastas irregularidades. O que se espera do MP é que os responsáveis sejam denunciados à Justiça e que mais cedo ou mais tarde arquem com as consequências.
No momento em que a Lava Jato tenta passar o Brasil a limpo, acredita-se que as ações conjuntas de órgãos fiscalizadores possam moralizar punindo os autores de tantos mal feitos na administração pública de Tupã. Jeane Rosin passou, mas não conseguiu ao menos dessa vez passar a limpo as irregularidades de seu passado administrativo e de seu ex-comandante político.
Leia também: Constrangimento: entrevista de secretária deixa Ricardo e Caio numa saia Justa