Tiago Munhoz Matias é acusado de exigir parte de salário de seu ex-assessor, caso ele fosse confirmado secretário da Juventude. A suposta proposta teria sido feita antes da pasta ser criada pela Câmara. A denúncia partiu de representação dos vereadores Charles dos Passos e Paulo Henrique Andrade.
Em depoimento que durou 8 minutos e 47 segundos, o ex-assessor parlamentar Fernando Oliver Amato prestou esclarecimentos ao promotor de Justiça Rodrigo Garcia, sobre eventual proposta do vereador Tiago Munhoz Matias, sem partido, para lhe entregar parte do salário de titular da Secretaria da Juventude que seria criada com aprovação do Legislativo tupãense.
Oliver Amato era virtual secretário da pasta que seria instituída pela administração de José Ricardo Raymundo (PV), como forma de comtemplar o opositor que passou atuar com a base aliada ao Executivo.
Com a desistência do assessor de Tiago Matias, o cantor Marcos André Soares, o “Candé” assumiu a titularidade da Secretaria. À época, o blog antecipou que a Secretaria poderia ser comandada a quatro mãos. É que, além do assessor, o professor Marcio Murini também seria nomeado.
Murini foi candidato a vereador pela coligação PV/PSD, e obteve 208 votos. O que não ficou claro quando houve a cogitação é como seria essa gestão compartilhada. Em entrevista nesta tarde, o professor explicou que foi convidado pelo próprio prefeito Ricardo Raymundo, mas não viu vantagem em atuar numa área que não seja a sua – esportes.
Além disso teria que deixar seu cargo efetivo como professor por um salário equivalente ao cargo de diretor de departamento – R$ 3.100,00. Ele desmentiu que tivesse recebido qualquer proposta de dividir salário com o virtual secretário. Por outro lado, confirmou ter ouvido comentários sobre o assunto.
Já para Oliver Amato, o motivo de sua desistência foi mesmo a proposta de contribuir com cerca de R$ 1.500,00 a R$ 2000,00 todos os meses. O salário bruto de um secretário é de R$ 6.900,00 – descontados o Imposto de Renda retido na fonte e mais encargos, sobra em torno de R$ 5 mil.
VACILOS
O ex-assessor vacilou em algumas respostas, por exemplo, se tinha ou não alguma prova material como mensagem e ou gravação. “Eu não me recordo, preciso verificar”, disse ao promotor, mas garantiu que a conversa que manteve com o parlamentar foi em seu gabinete e, entre amigos, já que o acompanhava antes mesmo de sua eleição.
Ao negar que possuía provas, admitiu que compartilhou com seus familiares a proposta que recebeu de Tiago “para contribuir com o partido”, segundo alegações do vereador.
REPRESENTAÇÃO
O Ministério Público chegou ao ex-assessor Oliver Amato através de sua própria “boca”. Mesmo antes da Secretaria da Juventude ser criada já existiam comentários sobre possível divisão de salário do futuro titular da pasta. Aliás, o tema não é novidade. Já houve especulações no passado recente de que a pratica era adotada por dois velhos e antigos aliados.
A novidade agora é que o fato foi levado ao conhecimento do MP, através dos vereadores oposicionistas Paulo Henrique Andrade (PPS) e Charles dos Passos (PSB). Eles também teriam ouvido do próprio ex-assessor de que realmente teria que contribuir com R$ 3 mil de seu salário caso fosse nomeado secretário.
Além disso, caso saísse a decisão da Justiça sobre o reajuste salarial que pode elevar os vencimentos para R$ 8.280,00, a contribuição deveria ser ainda maior.
A representação dos parlamentares aconteceu após protocolar denúncia sobre cooptação de vereadores opositores para compor a maioria a favor do Executivo.
Conforme o blog havia informado ainda em agosto, as negociações envolviam a abertura da chamada “República Verde” para aqueles que quisessem integrar a base de sustentação da administração no Legislativo.
As propostas foram aceitas pelos vereadores: Pastor Eliézer de Carvalho e Telma Tulim, ambos do PSDB, e Alexandre Scombatti (PR). Este último, apesar de não ter aceito nenhuma Secretaria é apontado como supostamente favorecido com a introdução da metodologia Sesi na rede municipal de ensino.
O Vereador, também como funcionário público municipal é acusado de receber vantagens, como a troca de função dentro do serviço público, para que pudesse atuar livremente como vereador. Desta forma, o parlamentar aparece em eventos públicos, se ausenta do trabalho para viajar, sem ter os dias descontados.
Outra situação sob suspeita de possível divisão salarial, segundo o vereador Paulo Henrique Andrade é a nomeação do secretário de Agricultura e Meio Ambiente. Ele deixou um salário de R$ 2.500,00, como assessor parlamentar do pastor Eliézer, para um contracheque de R$ 6.900,00. “Em todas as sessões o pastor afirma que a Secretaria de Meio Ambiente está fazendo isso, promovendo aquilo. Será mesmo que ele queria a pasta apenas para promover seu assessor”, questionou.
NINHADA
Já os vereadores tucanos quase abandonaram o “ninho” do PSDB para se debandar para a “ninhada verde”. Enquanto Eliézer indicou o seu assessor parlamentar, Anderson Luiz Pereira para a Secretaria da Agricultura e Meio Ambiente, a Vereadora Telma Tulim foi ser a titular da Assistência Social.
Antônio Brito (PSB) assumiu como suplente para apoiar a administração Ricardo Raymundo.
Depois de ouvir os autores da denúncia e o ex-assessor parlamentar Oliver Amato, o Ministério Público deve intimar os vereadores citados, os secretários de Governo Moacir Monari, Anderson Luiz (Agricultura e Meio Ambiente), bem como, o presidente do PSDB, Edson Schiavon que teve participação efetiva nas negociações ocorridas em agosto.
O OUTRO LADO
O vereador Tiago Matias disse que mantém a nota divulgada pelo portal MaisTupã, onde diz “ser alvo de perseguições políticas”, e se colocou à disposição das autoridades para futuros esclarecimentos.
Ao mesmo site, o vereador Scombatti disse que a acusação dos edis Charles dos Passos e Paulo Henrique Andrade foi “leviana e sem quaisquer fundamentos, na qual, utilizando argumentos rasteiros e divergentes da verdade, me acusam de integrar um SUPOSTO acordão feito junto ao Executivo com o objetivo de expandir sua base de sustentação no Legislativo”.
O secretário de Governo, Moacir Monari, diz que pretende tomar conhecimento da denúncia, e aguarda ser notificado sobre o tema. Essa também é a tese de outros envolvidos.
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