23 pessoas morreram nos primeiros 15 dias do mês de maio, uma média de um óbito a cada 12 horas.
A morte da comerciante Luciana Pereira, 45 anos – decorrente da Covid-19 – proprietária do Hot Life Lanches, tem um significado emblemático – que representa bem a dicotomia que vivenciamos nos dias atuais.
Enquanto uns defendem a vida como valor primordial, outros apontam na direção oposta e apostam na economia como vital à sobrevivência da humanidade. São valores distintos, mas os da vida irrefutáveis.
As famílias vitimadas pela “incurável” pandemia, as famílias enlutadas pela coronavírus, os milhões de brasileiros sequelados pela enfermidade causam bilhões de prejuízos financeiros aos nossos próprios bolsos – considerando que os recursos públicos empregados para combater a enfermidade são do povo.
Não existem apenas alguns culpados quando há uma guerra em curso. Toda a humanidade é responsável, seja por fomentá-la com uma ação ou por omissão de enfrentar a situação como de fato deveria encará-la.
Diante de um inimigo desconhecido em campo de guerra, o correto é ficar na trincheira para surpreendê-lo e não ser atacado. Por isso, é consenso mundial, inclusive em países que invejamos e tudo copiamos de que somente com o isolamento social radical é possível cortar a corrente viral ou reduzi-la a um número capaz de permitir que o sistema de saúde respire sem pressão mecânica.
BATATAS X TUPÃ
Batatais, cidade da região noroeste do estado, localizada na macrorregião de Ribeirão Preto, adversária ferrenha de Tupã, nos campos de futebol, marcou um lance na direção da meta da Covid-19.
Com uma população parecida com a de Tupã, pouco mais de 61 mil habitantes contra 65 mil, o prefeito Juninho Gaspar (Progressitas) determinou lockdown – o confinamento da população até o dia 31 de maio – o mais longo já adotado em São Paulo.
Assim como em Tupã, a cidade enfrenta problemas na aquisição de medicamentos e tem baixo estoque de oxigênio. Os leitos de
UTI voltaram a atingir a ocupação máxima.
Em Tupã, o secretário da Saúde, Miguel Ângelo de Marchi disse em janeiro, que o sistema de saúde estava colapsado e o momento já era de “guerra pela vida”. Em meados de janeiro, os leitos de UTI e da enfermaria já estavam todos ocupados.
Leia mais: “GUERRA PELA VIDA”: Covid-19 colapsou o sistema de saúde em Tupã!
Em Batatais, segundo o portal terra, nesta sexta-feira, 14, onze pacientes aguardavam no pronto-socorro por um leito em hospital.
Em Tupã, pacientes ficaram perambulando entre o PS da Santa Casa e a UPA, atrás de um “bico” de oxigênio, entre terça-feira, dia 11, e a madrugada de quarta-feira. Uma paciente de Iacri permaneceu por três horas dentro de uma ambulância a espera de socorro.
Foram horas tensas para equipes médicas e de enfermagem, mas sobretudo, para as vítimas que não conseguiam leitos na enfermaria e muito menos na UTI. Há dois meses os leitos estão 100% ocupados e, só abre vaga, quando alguém morre.
Antevendo o estrangulamento do sistema de saúde, mais uma vez o experiente secretário, Miguel Ângelo de Marchi disse em coletiva à imprensa, no dia 15 de março, que era chegada a hora de escolher “quem vai morrer”. De fato, começou!
Leia mais: Secretário da Saúde de Tupã anunciou caos da Covid em março
SÓ PRA CONTRARIAR
Porém, apesar dos constantes alertas das autoridades, através de entrevistas e lives, hoje questionamos – eram blefes ou fake news? Houve mudança de posicionamento no momento mais agudo da crise e criou-se uma “cortina de fumaça”, através de uma ação fiscalizadora de CPFs, mas não de CNPJs.
Em verdade, é irrelevante e impossível e até desnecessária essa blitz fiscalizatória, se apenas uma medida for providenciada. O lockdown. Quem estiver fora, está errado e pronto e independe se é como cidadão ou empreendedor. A dor é para todos, quando a dose do remédio não é suficiente.
AGRAVANTE
Sem vacinas suficientes para todos, percebe-se que aumentou a incidência de mortes de pessoas entre 40 e 49 anos, segundo os dados do Portal da Transparência do Registro Civil, que atualiza em tempo real nascimentos, casamentos e óbitos registrados pelos Cartórios de Registro Civil do País, em matéria publicada hoje (15) pelo portal IG.
O crescimento nessa faixa etária chegou a 57% no número de óbitos em abril na comparação com a média mensal registrada entre março de 2020 a março de 2021.
Os dados apontam ainda que os óbitos de pessoas mais jovens e que ainda não receberam imunização foram as únicas faixas etárias que registraram crescimento absoluto e percentual superior a 50%.
Os números absolutos de falecimentos da faixa etária de 40 a 49 anos também aumentaram em abril, passando de 7047 em março para 7611 no último mês, mesmo com a diminuição no total de mortes em relação a março de 2021.
O que se nota, ao contrário daquilo que preconizava o presidente Jair Bolsonaro sobre imunidade de rebanho – hoje a doença afeta mais diretamente as pessoas mais produtivas, aumentando o prejuízo econômico do país com a enfermidade e a retirada de trabalhadores ativos de suas atividades.
NÚMEROS DE TUPÃ
De acordo com o balanço epidemiológico divulgado nesta sexta-feira (14), com mais duas mortes, chega a 154 o número de mortes desde o início da pandemia. Ainda segundo os dados, mais 90 novos casos positivos foram registrados. Outros 150 novos casos suspeitos foram notificados.
Já o número de casos confirmados chega a 5.220, sendo 588 ainda em período de transmissão.
A taxa de ocupação dos leitos de UTI da Santa Casa local continua em 100%, sendo 14 pacientes de Tupã (93% do total). Um paciente é da região (7%), morador de Arco-Íris. Já a taxa de ocupação dos 20 leitos clínicos (enfermaria) destinados aos pacientes de coronavírus também está em 100%, com 16 pacientes de Tupã (80%) e 4 pacientes da região (20%), sendo 2 de Bastos, 1 de Iacri e 1 de Parapuã.
NÚMEROS DE BATATAIS
Batatais registrou 4.610 casos confirmados da covid-19 e 103 mortes desde o início da pandemia.
São 22 pacientes internados com a doença no município, sendo nove da rede particular.
A ocupação geral da Ala Covid – 13 pacientes, sendo nove em UTI e quatro em enfermaria – estava em 87% na tarde desta quinta.
“Temos um pico muito grande esta semana e os dados demonstram que, em dez dias, teremos um pico maior ainda, com muita dificuldade para cuidar das pessoas”, disse ao Terra, o prefeito de Batatais Juninho Gaspar.
Quem for flagrado desrespeitando o toque de recolher pode ser multado em um salário mínimo (R$ 1,1 mil). Além da multa, o infrator pode responder por crimes contra a vida e contra a administração pública.
As medidas acima podem ser muito mais eficazes que as adotadas em Tupã, que é a de correr ou voar (de helicóptero) atrás de infratores e ou negacionistas – “kamikazes” de uma guerra de inimigo invisível. Sem se entrincheirar somos alvos fáceis da Covid-19.
