Aluno de 15 anos ataca professor em Assis (SP), enquanto colegas debocham da situação que vitimou o professor de biologia. Não é fato isolado.
A Polícia de Tupã já identificou dois adolescentes que participavam de uma rede com sentimento extremista. Ouça texto
As ameaças de ataque as escolas Brasil a fora não é brincadeira. As manchetes dos principais jornais do país, nesta quinta-feira (13), comprovam essa preocupação das autoridades nacionais.
O pânico entre estudantes, pais e professores é tão real quanto a rede extremista com sentimento terrorista estabelecendo o caos e acionando inclusive, Agência de Inteligência dos Estados Unidos, que já havia identificado um grupo de jovens com a possível intenção de promover ataques simultâneos em ambiente escolar de cidades do interior paulista, entre elas, Tupã, São José dos Campos e Caçapava.
Em Tupã já dois os adolescentes envolvidos nesse tipo de ocorrência. A adolescente denunciada pela polícia americana e o que divulgou ataque à Escola Estadual “Luiz de Souza Leão”. Os dois foram localizados. Uma confirmou a intenção, mas se disse arrependida e, o último, disse que tudo não passou de uma brincadeira.
Mas, na contramão das supostas brincadeiras, o jornal de Brasília informa que em pelo menos 10 estados jovens foram apreendidos sob suspeita, por exemplo, de divulgar mensagens com incitação a novos ataques, como o que ocorreu em uma creche de Blumenau (SC). No DF, estudante da Unb – Universidade de Brasília foi preso pela polícia após anunciar massacre.
As ações são orquestradas de Norte a Sul pelas redes sociais e por trás estão extremistas com forte potencial e influenciados por sistema de extrema-direita que fazem apologia ao nazismo de Adolf Hitler e ao fascismo de Benito Mussolini.
O Diário de Pernambuco traz hoje em sua primeira página o destaque de que, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, anunciou ontem (12) uma portaria com novas medidas para reforço da segurança e prevenção de ataques as escolas. Ele também afirmou que a Secretaria Nacional do Consumidor avaliará a responsabilidade de plataformas digitais na divulgação de ameaças. Segundo Dino, as redes sociais poderão ser suspensas no país, caso não excluam publicações. Em caso de descumprimento, as plataformas poderão ser multadas em até R$ 12 milhões.
Enquanto isso, o jornal Correio do Povo, de Porto Alegre destaca também a preocupação com a segurança nas escolas. Além de dobrar o policiamento nas ruas, o Estado está convocando a mobilização dos pais.
O governo anunciou a liberação de horas extras para assegurar mais 1,7 mil policiais militares próximos às escolas públicas e privadas e fez apelo para que famílias auxiliem no monitoramento de crianças e jovens. Professores vão receber capacitação.
EM TUPÃ
Tupã (SP) ou qualquer outra cidade do interior do Brasil não está imune a essa questão que mexe com o dia a dia dos brasileiros, tanto quanto a pandemia de coronavírus.
Foi assim que classificou o próprio prefeito Caio Aoqui (PSD), durante pronunciamento e entrevista à imprensa na tarde desta quarta-feira (12), sobre ações de proteção no ambiente escolar, após constatação de um clima de tensão na comunidade tupãense.
Ao traçar o paralelo, o chefe do Executivo justificava a ausência de um protocolo para lidar com a situação de apologia à violência escolar, assim, como foi durante a pandemia de Covid-19.
As supostas brincadeiras – são com teor de terrorismo. Ameaça de massacre, provoca terrorismo psicológico. Nestas condições, nenhuma hipótese pode ser descartada e o correto é acreditar de que os extremistas não estão brincando.
A divulgação sobre o tema é uma forma explícita de acionar o gatilho de jovens “incautos”, porém já alimentados com sentimentos do discurso de ódio propagada pelas redes sociais.
Nos últimos tempos, houve uma alta de 67% desse tipo de discurso, quase sempre precedida por brigas e ofensas racistas, conforme destacaram o Estadão e Agência Brasil, respectivamente.
O assunto foi abordado em matéria publicada no dia 27 de março, logo após o ataque na Escola Estadual Thomazia Montoro, na zona oeste da capital paulista, quando um estudante de 13 anos de idade matou uma professora a facadas e feriu mais três docentes e dois alunos.
EXTREMISMO
De acordo com os movimentos sociais que integram a Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE), “é importante ressaltar que o aumento de ideias e comportamentos fascistas, de extrema direita entre a população, de uma cultura de ódio, xenofobia e intolerância em suas mais variadas formas, contribuem diretamente para um cenário propício a atitudes cada vez mais violentas na sociedade, seja nas escolas, ou fora delas”, destaca a análise do movimento.
Para a CNDE, o problema é complexo e não será resolvido apenas com medidas de “segurança”. “O debate sobre a violência nas escolas não pode se limitar à segurança pública”, enfatiza o texto. “A violência contra as escolas é reflexo de um conjunto de problemas estruturais na sociedade brasileira que têm sido amplificados por comportamentos e atitudes diametralmente opostos à construção de uma cultura de paz”, acrescenta.
O movimento cita ainda os dados do relatório “Ultraconservadorismo e Extremismo de Direita entre Adolescentes e Jovens no Brasil”, lançado em dezembro de 2022. O estudo aponta que ao longo dos anos 2000 ocorreram 16 ataques em escolas brasileiras que mataram 35 pessoas e deixaram 72 feridas.
BULLYING E VIOLÊNCIA
“Casos de ataques com armas de fogo nas escolas praticados por alunos e ex-alunos, em geral, são normalmente associados ao bullying e situações prolongadas de exposição a processos violentos, incluindo negligências familiares, autoritarismo parental e conteúdo disseminado em redes sociais e aplicativos de trocas de mensagem”, diz o relatório.
As informações iniciais a respeito do ataque na escola Thomazia Montoro apontam para a presença de alguns desses elementos. Os estudantes ouvidos na manhã da segunda-feira (27) pela reportagem da Agência Brasil atribuem o ataque a uma briga, que teria chegado à troca de socos na semana anterior. Na ocasião, o autor do ataque teria ofendido um outro estudante com termos racistas. Há relatos que apontam, no entanto, que o agressor era vítima de bullying na escola.
Entre as medidas que devem, na avaliação da CNDE, ser tomadas para enfrentar esse problema, o movimento enumera: o fim dos programas de militarização de escolas, o desarmamento da sociedade, a promoção de políticas de saúde mental e resposta firme aos discursos fascistas.