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A aviação regional e a gente de chinelo

Vereador comete gafe após discursar em defesa do transporte aéreo para Tupã. Minha avó já previa a ascensão do “pé de chinelo”.

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A Azul Linhas Aéreas vai ser convidada para atender Tupã

Há cerca de quase 40 anos, minha avó nordestina, descendente de índios, mesmo desprovida de conhecimento literário possuía em sua meia idade conhecimento de vida para prever que um dia as “cadeiras” iriam subir. Era uma referência ao povo pobre que iria alcançar ascensão social, tão propagada nos dias de hoje pelo Governo do PT que atribui o sucesso à sua política econômica. Mentira.

Independentemente da interferência política, minha avó já dizia que isso iria acontecer e ariscava até a palpitar na política: “nem que seja por 24 horas, os comunistas vão chegar ao poder”. Suas palavras eram parafraseadas e atribuídas ao sacerdote Cícero Romão Batista, que na devoção popular, é conhecido como Padre Cícero ou Padim Cíço (Crato, 24 de março de 1844 — Juazeiro do Norte, 20 de julho de 1934). Carismático, obteve grande prestígio e influência sobre a vida social, política e religiosa do Ceará bem como do Nordeste.

Pois bem, há cerca de 40 anos, na meia idade de minha avó que faleceu aos 94 anos, a maioria das pessoas não tinha absolutamente nada. “A gente” não tinha asfalto na rua, nem iluminação, não tinha banheiro, telefone, televisão. Quando muito, tinha um rádio e, claro, chinelo. A propaganda dizia “não desbota e não solta as tiras”. Quando isso acontecia, bastava um prego fino ou um pedaço de arame transpassado no toco da correia e pronto: estava pronto de novo. Chinelo novo!

Naquela época não tinha doação de leite, de preservativos masculino e feminino nos postos de saúde, não tinha transporte escolar, nem merenda. Não tinha remédios e nem postos de saúde. Enfim, não tinha vale gás, cultura, bolsa escola, auxilio reclusão e nem bolsa família. Família tinha e muita. Filhos de monte, aliás, isso nem com o tempo parou, mas diminuiu e a média brasileira mais escolada chega a dois filhos por casal.

Nos dias atuais a vida de milhões de “miseráveis” para o PT melhorou e muito. Minha avó Dorotéia Maria da Conceição da Silva já dizia antes mesmo de Lula seu conterrâneo chegar ao poder e fazer de Dilma sua sucessora. Essa ascensão era questão de tempo. Efeito da globalização e não por apenas capricho da política econômica e social tupiniquim. As “cadeiras” realmente subiram. Índio não quer só mais apito. Quer conexão direta e on-line com a modernidade.

Nas Ruas e Avenidas de sua cidade é difícil distinguir quem é rico ou pobre e vice e versa. Seja pela roupa que veste, pelo carro que compra ou pelo local que frequenta. Todo mundo é rico ou pobre até prove o contrário. E ver alguém de chinelos não é mais sinônimo de pobreza.

Os chinelos também ganharam status e hoje são galanteados em propagandas milionárias e aparecem nos pés de beldades, atrizes e atores, famosos. Chinelo hoje independente da marca é sinônimo de gente descolada e “antenada” com a moda, de bem com a vida e de vida saudável, férias, viagens – de avião etc.

Mas na Estância Turística de Tupã, no Centro Oeste Paulista, cidade distante 527 km de São Paulo, a Capital de todos os paulistas, ainda há preconceito com o “pé de chinelo”. Em discurso na sessão camarária de segunda-feira (17) o presidente do Legislativo, Antonio Alves de Sousa, “Ribeirão” (PP) soltou a perola do chinelo. Quando tentava justificar a necessidade de Tupã fazer parte da rota da aviação regional, que o Governo Federal pretende estimular para o transporte aéreo chegar às pequenas cidades do interior brasileiro e usou a ascensão das “cadeiras” (pobres) como dizia minha avó e emendou: “hoje não é só rico que viaja de avião, o pobre também anda. A gente vê muita gente de chinelo”.
Siri

O chinelo de hoje, é mais fácil vê-lo no pé do rico que do pobre. Tá na TV e até na propaganda do PT. O povo feliz, sorridente e de chinelo no pé. De pés para o alto, igual jacaré. De papo para o ar. Igual para pobre e rico. Gente de chinelo e de avião. “Não descora, não solta às tiras e tem o cheiro da riqueza”. Ribeirão vai ter que se explicar na sessão da Câmara desta segunda-feira (24) para evitar a comparação com a ex-BBB e tupãense Íris Stefanelli, apresentadora da Rede TV. A sessão da Câmara tem transmissão ao vivo pela TV Câmara que também é chamada de a “TV do Povo”. Os pobres tiveram mesmo uma grande ascensão. Têm até TV, não vai ter chinelos!

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