Essa poderia ser uma frase dita pelo então prefeito Ricardo Raymundo – ouça podcast
“Por que você não tá com seu vice? E eu respondo: porque nos momentos mais difíceis que nós tivemos nessa cidade, ele não teve comigo”. Essa poderia, muito bem, ser uma frase dita pelo então prefeito José Ricardo Raymundo, “Ricardo Lages Tamoyo” (PV) durante o seu processo de impeachment no ano de 2019. Mas não foi. Essa afirmação veio do prefeito Caio Aoqui (PSD) durante a convenção do seu partido no dia 4 de agosto, justificando o injustificável.
Quem conhece os bastidores da política local sabe muito bem, que Renan Pontelli nunca teve espaço no governo Caio Aoqui, mesmo sendo vice-prefeito. O motivo: o crescimento político de Pontelli incomodava Aoqui. E quando um vice, ameaça o protagonismo de um prefeito com as características comportamentais como as de Caio Aoqui, se tornando mais popular do que ele, pode ser fatal. Pontelli sofreu as consequências por crescer demais, em uma terra que não era fértil.
Os acordos nunca foram cumpridos, os espaços não foram cedidos e o trabalho do vice que tem mais experiência de gestão do que o atual prefeito por estar no Poder Executivo desde 2013, sendo um dos principais secretários do governo Manoel Gaspar, nunca foram concretizados, não por “abandono” de Pontelli, mas por uma estratégia política de Aoqui.
O AFASTAMENTO
Antes de perguntar sobre o porquê Pontelli não está ao lado de Aoqui, é preciso pensar em quem causou esse afastamento. Esse “afastamento estratégico” é uma tática já conhecida de Aoqui. No ano de 2019, quando Aoqui era vice-prefeito no governo de Ricardo Raymundo, Tupã também passava por momentos difíceis: os casos de dengue explodiram passando dos seis mil, a infraestrutura da cidade estava comprometida com inundações em diversos bairros e as acusações de ineficiência do governo ampliaram, se tornando base para a denúncia de impeachment do primeiro prefeito com mandato cassado na história de Tupã. E a pergunta que fica é a seguinte: onde estava o então vice-prefeito Aoqui em meio a esses problemas que atingiam a cidade e solapava o governo municipal do qual fazia parte?
Caio Aoqui pode não se lembrar. Mas se hoje está na prefeitura, é por causa da oportunidade que um dia lhe deram de ser vice-prefeito de Ricardo Raymundo. No ano de 2016, Aoqui com 26 anos, estava em seu primeiro mandato como vereador. E naquele ano, Eduardo Edamitsu, “Shigueru”, seria candidato. Com receio de não ser reeleito a vereador, por saber que iria perder votos de membros da colônia japonesa que iriam votar em “Shigueru”, Aoqui aceitou ser vice de Raymundo.
Naquela época, Raymundo estava com dificuldade de encontrar um nome para compor sua chapa como vice. A escolha por Aoqui foi definida em uma reunião política na sala de estar da casa de Márcio Murini (morto na pandemia de Covid-19) na avenida Tabajaras. Nessa época, Murini explicou como foi a escolha por Aoqui em sua conversa com Raymundo: “Você já tem um vice?”, perguntou Murini. “Ainda não”, respondeu o então candidato a prefeito. “Por que não o Caio? Ele é jovem, vereador e tem futuro pela frente”, disse Murini. Raymundo, ainda sem saber se Aoqui aceitaria ou não o convite, concordou com a proposta, compôs a chapa e venceram as eleições como “azarões” daquele pleito eleitoral que tinha como adversários o ex-prefeito Waldemir Gonçalves Lopes e o ex-presidente da OAB, o criminalista Wagner Fuin.
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ONDE ESTÁ SEU VICE?
Naquele ano, a coligação de Raymundo/Aoqui teve como vereadores eleitos: Antônio Carlos Meireles (PV), Capitão Neves (PV) e “Shigueru” (PSD). Após diversos erros políticos e estratégicos com articulações equivocadas, do então governo municipal, somados aos inúmeros problemas da cidade, Raymundo foi submetido ao processo de impeachment. E a pergunta não somente nos bastidores políticos, mas de grande parte da população era: “Ricardo, onde está o seu vice?”. Eis a questão.
Segundo interlocutores da época, o mínimo que se esperava de Aoqui durante o processo de cassação de Raymundo era sua fidelidade ao grupo político que o ajudou a chegar à prefeitura, como vice-prefeito, algo inimaginável até então, para um jovem político, sem experiência de gestão, que tinha acabado de sair do seu primeiro mandato como vereador. Mas o apoio tão esperado de Aoqui, se transformou em uma articulação meticulosa e sorrateira, pelas costas de Raymundo.
“Mas onde já se viu, depois de tudo o que o Ricardo fez por ele, o Caio nem mesmo se pronunciou em defesa dele?”, disse o interlocutor, à época, frustado com a falta de apoio de Aoqui a Raymundo durante o seu processo de impeachment. “O mínimo que ele (Caio) tinha que ter feito, como vice, era ir à tribuna da Câmara, para defender o Ricardo que só por causa dele, ele é vice. Mas nem isso ele fez. Com certeza, armou o golpe nas costas do Ricardo”, acrescentou.
O silêncio do então vice-prefeito, ressoou nos meios políticos. Em todo o processo de impeachment, Aoqui não se afastou do governo, não renunciou, não se pronunciou em defesa do amigo que, quando ninguém esperava, acreditou em seu nome para ser vice-prefeito, incitou “Shigueru” que era do seu partido a votar a favor da cassação do prefeito que o ajudou a eleger como vereador e ainda se aliou a antigos adversários.
Após o golpe, Aoqui esperava apenas a queda de Raymundo para assumir a cadeira de prefeito. Tudo saiu conforme o planejado. Mas por ironia do destino, a pergunta feita por Aoqui permanece a mesma: “Onde estava o vice-prefeito de Tupã, nos momentos mais difíceis da cidade, durante o impeachment de Ricardo Raymundo?”.
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