A mentira do turismo e a gastança na Avenida Tamoios

Como torrar R$ 6 milhões em uma obra pública faraônica, desnecessária e imoral dizendo que isso vai atrair turistas.

É incrível, mas onze anos depois de Tupã ter recebido o título de estância turística ainda se discute no Fórum de Debates para o Desenvolvimento como atrair turistas para a cidade. Por mais falsos que tenham sido os motivos para que Tupã tenha recebido este título, é muita incompetência dos prefeitos, vereadores e até da população, que acredita em qualquer mentira de políticos, que ainda não tenhamos turismo de fato com tanta verba a disposição.

Desde 26 de maio de 2003, quando foi aprovada a lei que concedia a Tupã o título de estância turística, a cidade recebeu muito dinheiro do governo estadual, mas quase nada se fez para que o turismo de fato exista durante o ano todo. Tupã ainda quer começar a atrair turistas da região, quando deveria estar preocupada em aumentar o aeroporto da cidade para receber turistas de cidades de outros estados que viriam em grandes aviões, mas os únicos que pousam e decolam com frequência em nosso aeroporto são os pássaros.

O pouco que se fez foi por parte da iniciativa privada, embora a prefeitura seja o elemento com mais poder, tanto político como financeiro. E é o elemento que mais lucraria com o turismo, pois além de receber dinheiro do governo do Estado também arrecadaria mais imposto.

Parte do que foi feito pela iniciativa privada não existe mais devido a falta de turistas e de apoio da prefeitura, como é o caso do Recanto das Águas. Para começar, o acesso ao local é péssimo, uma estrada estreita, com muitas curvas, areão na seca e lama na época das chuvas.

O título de estância turística foi apenas esperteza de políticos, Gaspar incluído, para aumentar a verba para a cidade.

Foi bom, mas poderia ser melhor se a cidade estivesse atraindo turistas. A oferta de emprego seria maior e a população teria aumento de renda. Até agora só a prefeitura teve aumento de renda através de verbas públicas.

Até hoje não temos nem ao menos um plano diretor do turismo. O que estão fazendo os vereadores de Tupã, além de receber um belo salário, obedecer ao prefeito e fazer moções de congratulações?

Temos um Conselho Municipal de Turismo atuante? Não.

Os acessos para os potenciais atrativos são precários, como é o caso das cachoeiras em riachos que deságuam no Rio do Peixe. Além de difícil, poucos sabem chegar lá. Não existem placas e às vezes nem estrada.

O Rio do Peixe não é aproveitado em nem um décimo do que seria possível.

Tupã ainda está apenas no potencial. Vai ficar como o Brasil, que é o eterno país do futuro?

O trem turístico em Paraguaçu Paulista, mantido pela prefeitura, existe desde 2005, mas aqui temos apenas um projeto no papel.

Entretanto, um dos tópicos discutidos no Fórum de Debates foi a construção de uma estátua da Índia Vanuíre, sob a alegação de que isso seria um atrativo turístico. Nada se falou do trem turístico. Nem o prefeito, vereadores e outras pessoas supostamente esclarecidas de nossa cidade conseguem enxergar que estátua é apenas homenagem. Não se tem notícia de alguém que veio a Tupã para visitar a estátua de Dom Bosco.

O turismo é tão fraco em nosso município, que não existe um único hotel ou restaurante em Varpa. A estrada que liga o distrito ao rio é péssima e a ponte sobre o Rio do Peixe está caindo.

Os hotéis em nossa cidade ficam mais cheios durante a semana que nos finais de semana, porque aqui não se hospedam turistas, mas pessoas a trabalho. E não é trabalho ligado ao turismo.

Não há uma única placa na rodovia Comandante João Ribeiro de Barros ou na estrada Tupã-Quatá que indique que a cidade é estância turística e que Varpa é um local (potencialmente) turístico, ou que aqui ao lado há uma aldeia indígena. Nem o Museu Índia Vanuíre, que fica aberto nos finais de semana, recebe destaque nas rodovias que passam pela cidade.

Uma prova de que nem a prefeitura acredita na mentira de que existe turismo em Tupã é o fato do Solar Luís de Souza Leão não abrir aos sábados, domingos e feriados.

O PIT (Posto de Informações Turísticas) poderia ser fechado, afinal quem vai procurar informações turísticas em Tupã? Durante um tempo havia revistas e jornais para ler no PIT, agora nem isso temos. É apenas um prédio bonito na Praça da Bandeira.

Manoel Gaspar era prefeito em maio de 2003, data em que Tupã recebeu o título, e ficou até 31 de dezembro de 2004, quando entregou o cargo para seu sucessor, Waldemir Gonçalves Lopes, o candidato que Gaspar apoiou e depois brigou.

Nos 19 meses que Gaspar governou Tupã sob o título de estância turística, ele pouco fez pelo turismo, apenas comemorou a vinda do dinheiro e lançou idéias de cursos e projetos voltados para o turismo, mas que nunca aconteceram.

Waldemir também pouco fez pela área. Seu maior legado para tornar Tupã conhecida foi uma montagem fotográfica mostrando ele ao lado de Lula, para tentar ganhar uns votinhos de forma rasteira na reeleição de 2008. Ele, como Lula, disse que nada sabia e que o responsável, que seria da assessoria de imprensa da prefeitura, seria punido. Acabou em pizza.

Mas o maior divulgador de Tupã, que alguns anos atrás fez nossa cidade virar notícia a nível nacional, quiçá internacional, ser destaque no Jornal Nacional e até no Jô Soares, é o nosso caro vereador Antonio Alves de Sousa, vulgo Ribeirão, com os seus notebooks de ouro. Até hoje não foi superado. Talvez só será quando algum político de nossa  cidade for preso pela Polícia Federal. Quem será o primeiro a fazer história?

Voltando ao Waldemir, ele inventou uma história, comprada por muitos desavisados, que Carnaval com shows caros atrairia turistas. Logo também havia Tupã Junina e até Comitiva dos Tropeiros com shows custando bem mais que R$ 100 mil. E a gastança foi aumentado com o passar dos anos, tudo pago com dinheiro público, o nosso dinheiro. A prefeitura só esqueceu de avisar que quem assiste este show é, em sua maioria, gente de Tupã. Há também pessoas das redondezas, de cidades como Bastos, Parapuã e Quintana, mas eles ficam na casa de parentes, ou vem e voltam no mesmo dia, sem gastar nada. Aqueles que vem para o Carnaval em Tupã e moram em São Paulo, Campinas ou Ribeirão Preto, por exemplo, são pessoas que nasceram ou viveram em nossa cidade, estão visitando parentes que residem aqui e, portanto, elas viriam de qualquer forma, com ou sem Carnaval. Logo, gastar dinheiro em shows não é atrair turista, é apenas fazer festa para quem não dará lucro. Goste-se ou não do Carnaval e demais festas, esta é a verdade.

Manoel Gaspar voltou ao poder e está repetindo os erros de Waldemir. Falou que iria fazer melhor e mais barato, mas faz igual e mais caro. Os atos são diferentes das promessas e  Gaspar está gastando fortunas com Carnaval e demais festas, sem apoiar o turismo de verdade, aquele que acontece o ano todo.

Gaspar e Waldemir deitaram em berço esplêndido com o título de Estância e a verba estadual recebida sem esforço.

Na semana passada aconteceu a Comitiva dos Tropeiros 2014. É ótima, é bem realizada, resgata nossas tradições. Mas quanto os integrantes das comitivas gastaram em Tupã, mesmo os que vieram de longe? Quase nada. Não ficaram em hotéis, não foram a restaurantes, não compraram roupas ou calçados e talvez nem tenham entrado na cidade. Chegaram num dia, foram para a Exapit, dormiram lá, almoçaram em Varpa e foram embora. Pode ser que tenham deixado dinheiro em um dos postos de gasolina (talvez do Gaspar) para encher o tanque. Só. Que turismo é este?

Alguém já viu uma reportagem sobre a turística Tupã em revistas de turismo de grande circulação, como a Viagem e Turismo, da Editora Abril, ou Viaje Mais, da Editora Europa? Não viram e nem vão ver tão cedo.

Enquanto isso, Brotas ainda luta para ser estância turística, apesar de atrair milhares de turistas por mês e ser alvo de reportagens em jornais e revistas todo ano.

Ignorando a nossa falta de turismo e a necessidade de investimentos públicos na área, a prefeitura toma decisões equivocadas ao extremo, como gastar R$ 6 milhões de reais na reforma da Avenida Tamoios, sendo R$ 3 milhões do governo do Estado e R$ 3 milhões da prefeitura de Tupã.

Esta é mais uma ideia mirabolante do vereador Ribeirão, que alguns chamam de primeiro-ministro.

O projeto nasceu ainda no governo de Waldemir, mas o dinheiro só saiu agora. Ribeirão diz que não é possível redirecionar esta verba para outra obra, o que é verdade. Mas ele esconde que o dinheiro veio para reformar a Avenida Tamoios porque a prefeitura, por idéia dele, pediu isso ao governo do Estado. Se ao invés disso a prefeitura tivesse apresentado o projeto de um viaduto ou estrada, a verba sairia do mesmo jeito. A verba só veio direcionada para a reforma da Tamoios porque este foi o pedido.

Enquanto se gasta R$ 6 milhões para reformar a Avenida Tamoios, os vereadores se calam, inclusive o oposicionista Luís Alves. Talvez seja porque o projeto tenha sido apresentado ao governo estadual pelo seu mentor, Waldemir Gonçalves Lopes.

Como não é possível redirecionar a verba estadual para outra obra, o melhor é cancelar a obra, não receber os R$ 3 milhões e não gastar a contra-partida de outros R$ 3 milhões da prefeitura.

Ao invés de gastar R$ 6 milhões para reformar uma avenida já existente e em boas condições, deveria ter sido feito um projeto para outras obra verdadeiramente necessária, como a construção de um viaduto sobre a Rua Marília, para ligar a Rua Domingos da Costa Lopes com o Jardim Jaçanã e a SP 294, como consta em mapas distribuídos pela prefeitura desta nossa gloriosa estância turística.

Falando em Rua Domingos da Costa Lopes, Manoel Gaspar prometeu em seu segundo mandato que iria ligar esta rua com a estrada Tupã-Queiróz, mas ele não cumpriu o prometido. A ligação só saiu no final do mandato de Waldemir.

Aqui há uma lista de outras obras onde esses R$ 3 milhões da contra-parte da prefeitura poderiam ser aplicados caso a reforma da Avenida Tamoios fosse cancelada. A verba poderia ser usada para uma ou mais destas obras. No caso das mais caras, servia para pagar boa parte dos gastos. Basta escolher a opção que mais o agrada e cobrar do prefeito e vereadores. Ou então invente a sua própria opção, mas não aceite tudo que é imposto pela prefeitura.

-criação do programa bolsa-família municipal, uma promessa de campanha de Manoel Gaspar (será mesmo que o que político promete não se escreve?);

-construção da Cidade da Fotografia no terreno da antiga Brassida, que é mais uma promessa de campanha ainda não realizada de Manoel Gaspar (promessa não é dívida?);

-construção de mais creches e escolas para que não haja lista de espera;

-mais verba para a Saúde para acabar com falta de remédios na farmácia municipal e com a falta de médicos nos hospitais nos finais de semana;

-construção do 4º distrito industrial ao lado do 3º, para aproveitar a proximidade com a ferrovia. Hoje não há trens, mas, caso voltem, será melhor estar próximo da ferrovia;

-construção de acostamento na estrada Tupã-Bastos, uma obra feita de forma irresponsável por não ter acostamento. No começo do mês uma pessoa morreu em um acidente provocado por um caminhão que quebrou e ficou parado sobre a pista por não ter acostamento;

-eliminação da lombada no cruzamento da estrada Tupã-Quatá com a estrada do Picadão e construção de uma rotatória no local. Já aconteceram muitos acidentes ali, inclusive com mortes, mas a prefeitura se omitiu e nada fez, seja com Gaspar, seja com Waldemir a frente do governo municipal;

-alargamento da estrada do Picadão com construção de canteiro central entre o trevo da rodovia SP 294 e a estrada Tupã-Quatá;

-alargamento e colocação de canteiro central na estrada Tupã-Queiróz entre o final da Rua Júlio Dualibi e o Conjunto Jamil Dualibi;

-retirada de quebra-molas das estradas vicinais e colocação de radares;

-construção de uma avenida com duas pistas e canteiro central ligando a Rua Caingangues com o 3º distrito industrial. Até hoje a estrada não foi asfaltada, depois de 10 anos da inauguração do distrito. Em outras cidades, como Marília a prefeitura abre largas avenidas dos dois lados da ferrovia, da rodoviária até o distrito de Lácio, mas aqui nem uma ruazinha estreita foi feita;

-prolongar a Avenida Dracena até a Avenida Francisco Lagustera, e ligar esta à entrada da cidade;

-alargar a estreita Rua Almirante Barroso no trecho ao lado da Camap, entrando no terreno da cooperativa;

-alargar a entrada da cidade, desde o trevo principal até a rodoviária;

-construção de uma rotatória em frente a rodoviária (dizem que já existe verba para isso, mas a prefeitura não quer fazer. Por que?);

-abertura de uma rua ligando o trevo da Camap com a Rua Ipiranga (esta foi uma promessa não cumprida do ex-prefeito Waldemir);

-abertura de uma avenida entre a Ceagesp e a Rua do Stand;

-construção de um viaduto sobre o Córrego Afonso XIII, ligando a Avenida Luiz Gonzaga Junqueira de Andrade e a Rua José Molica com a Rua Caetés, para desafogar o trânsito na baixada da Avenida Tamoios;

-abertura de uma avenida ligando o Conjunto José Feliciano com a Rua Caingangues e outra ligando o mesmo conjunto habitacional com o Jardim Casari para que os estudantes não tenham mais que caminhar por pastos, inclusive a noite, para ir e voltar da escola;

-abertura de avenida margeando o Córrego Afonso XIII, ligando a Rua Caingangues com a Rua Aimorés, com alargamento do córrego e retirada das residências ribeirinhas;

-abertura de uma rua ligando a Vila Inglesa com a J. E. Ari Fernandes, margeando a rodovia SP 294;

-transformar a Represa do Sete em um balneário, inclusive com o aumento da altura da barragem e construção de pista de caminhada e ciclovia ao redor da represa. Hoje, chama a Represa do Sete de balneário é uma grande mentira;

-compra e reforma do Country Clube;

-abertura de novas ruas ligando o distrito de Varpa com o Rio do Peixe, e abertura de uma larga avenida margeando o rio, com ciclovia;

-correção do traçado da estrada que liga Varpa até a estrada Tupã-Quatá, eliminando as curvas fechadas e construindo acostamento.

Idéias melhores de obras mais importantes que a reforma da Avenida Tamoios existem aos montes, basta pensar, embora muitos administradores públicos não tenham o hábito de usar a inteligência quando se trata da aplicação de recursos públicos.

O dinheiro da reforma poderia ser aplicado em obras para melhorar a saúde, educação, turismo ou infra-estrutura onde realmente é necessário, não em uma avenida que já está pronta.

Obras muito menores que esta estão paradas a quase dois anos, como o Museu do Tropeiro e a Arena de eventos na Exapit. Quanto tempo demorará e quanta sujeira irá provocar esta reforma da Avenida Tamoios? Já imaginaram a obra parada em época de chuva? Os comerciantes que apóiam a reforma irão se arrepender quando a obra começar a atrasar e prejudicar os negócios.

A prefeitura não consegue nem asfaltar o trecho de cerca de 100 metros da Rua Guatemala entre a Rua Nhambiquaras e a Rua Mandaguaris, ao lado do escritório da Lajes Tamoyo, e vai se aventurar a reformar a Avenida Tamoios? Isso é muita irresponsabilidade e não podemos ficar calados. A idéia da reforma partiu de cima, foi imposta, não houve discussão, apenas uma apresentação na Acit onde não havia clima ou condições para rejeitar o projeto.

Volto a afirmar: apesar de não ser possível o redirecionamento do dinheiro do governo estadual para outra obra, é possível cancelar o convênio e não fazer a reforma. A cidade não receberá os R$ 3 milhões do  Alckmin, mas em compensação vai economizar os outros R$ 3 milhões que gastaria em contra-partida em uma obra desnecessária. E o prefeito Manoel Gaspar deixaria de ter um grande desgaste político com uma Avenida Tamoios inacabada e cheia de lama em dias de chuva.

Isso pode ser a diferença entre o sucesso de seu governo ou o fim de sua carreira política.

É certo que se Gaspar e Waldemir tivessem aplicado verbas no turismo de forma correta não estaríamos discutindo como começar a atrair turistas depois de onze longos anos do recebimento do título de estância. Foi uma década perdida para a indústria do turismo local.

Uma estância turística de verdade se constrói ao longo dos anos e com decisões voltadas para o turismo, não com shows nem com gastos para beneficiar alguns poucos donos de imóveis na Avenida Tamoios e muitos menos com uma lei que diz que uma cidade é estância por decreto.

Se nem a prefeitura investe em turismo, porque esperar que a iniciativa privada o faça? Um empresário só investirá em turismo aqui em Tupã quando houver turistas, e assim a prefeitura deve dar o impulso inicial, mas isso ainda não aconteceu.

Com turistas, haverá a construção de hotéis e a vinda de aviões. Não adianta querer um hotel e aviões sem termos pessoas para ocupá-los, todo empresário e até um assalariado deveria saber disso.

Não basta ser turística, tem que ter turismo. E Tupã não tem. Quem diz o contrário mente.

Douglas Oliveira de Sousa

RG 25.764.048 – SP

CPF 140.420.987-54

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