A viagem: “Quando eu bater, morro”

A frase era de “Carlinhos” e fazia referência a um eventual acidente que viesse a sofrer.

 

Carlinhos, Ricardo Costa - projetos interrompidos
Jota Neves, Carlinhos e Ricardo Costa – reunião de “projetos interrompidos”…

O ano era 2008, eu e Carlos Marques Pereira viajávamos pela região para promover os primeiros debates entre os candidatos a prefeito por Tupã, Osvaldo Cruz, Parapuã, Rinópolis, Rancharia, Arco-Íris, Queiroz, Herculândia, Quintana, João Ramalho, Quatá e, Bastos – sede da Rádio Cidade 91,5.

Nos altos de seus 60 anos, Carlinhos queria consolidar o conceito regional da empresa societária com o advogado Ademar Pinheiro Sanches.

Eu que já havia tido uma passagem pela emissora a partir de fevereiro de 2005 e até 2007, fui recontratado para encampar o novo projeto de expansão da área jornalística da rádio.

Carlos Marques era do tipo que preferia o contato pessoal ao tratar de negócios. Muitos assuntos poderiam ser resolvidos através de uma ligação telefônica, mas ele dizia – Jota, vamos lá!

Eu argumentava, “mas, Carlinhos, vamos ligar, vai que de repente a gente perde a viagem”. Em verdade eu fazia de tudo para me desvencilhar de uma viagem de veículo com o diretor. Motivo: corria demais!

Em muitas ocasiões eu me antecipava e resolvia sozinho a situação para não ter que viajar ou “tomava” as chaves das mãos de Carlinhos para impedir que dirigisse, ainda que demonstrasse habilidade ao volante em alta velocidade.

Carlinhos se divertia, quando descobriu que na verdade eu tinha receio de vê-lo ao volante.

Em 2012, ano eleitoral, outra vez iriamos repetir os debates – sucesso de audiência e de venda de publicidade. Tudo vinha à tona. Risco de novo pelas estradas da região.

O meu receio era com os imprevistos. Sabia de sua destreza ao volante, o carro tinha manutenção perfeita, mas existem outros fatores que podem ocasionar situação de perigo, além do próprio excesso de velocidade.

De repente, um pedestre cruza a rodovia, outro veículo faz uma manobra inesperada e ou animais sobre a pista, comum pelas estradas vicinais.

Retornando de Osvaldo Cruz – onde a rádio mantinha uma sucursal de jornalismo, nos aproximávamos do trevo principal de Iacri. Me veio à cabeça o acidente que matou uma jovem de Tupã, após bater ou perder o controle do carro por conta de animal sobre a pista e comentei com Carlinhos…

– Cuidado Carlinhos, por aqui sempre tem animal atravessando a rodovia. Ele fingiu que não escutou, mas percebi que olhou para mim.

Eu estava com as pernas esticadas no assoalho do carro e segurando firme naquele acessório em formato de alça que é preso no teto, próximo às portas dos passageiros ao constatar o velocímetro anotando 160 km/h.

Carlinhos gargalhava ao ver estampada em meu rosto a apreensão do momento. Ele não fazia isso para assustar. Era assim que dirigia.

O veículo que têm o motor amaciado em velocidade alta, “pede” aceleração maior, mesmo no perímetro urbano. Era o jeito Carlinhos de dirigir.

– A diferença é, quando eu bater, morro, vocês podem ficar numa cama, dizia em tom de brincadeira ou profetizando o próprio destino.

Carlinhos RádioDe fato, Carlos Marques Pereira morreu depois de uma fatalidade – bateu em um animal bovino na vicinal Tupã/Bastos.

Eu e ele também fizemos um bate-volta para São Paulo, mas assumi o volante na viagem de volta.

O texto não tem qualquer intenção de responsabilizar a vítima pelo acidente, muito ao contrário. Sem o animal, a fatalidade possivelmente não teria ocorrido.

O objetivo foi o de apenas retratar a frase que me veio à lembrança de nossas andanças pelas estradas profissionais da vida.

“Nossa vida é uma constante viagem. A paisagem muda, as pessoas mudam, as necessidades se transformam, mas o trem segue adiante” – Paulo Coelho.

O blog se solidariza com a família e amigos.

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