Por Pedro Ribeiro
21 de janeiro de 2019, 12:22
É grande o desconforto de integrantes do governo recém empossado com o caso que se arrasta e envolve o filho do presidente Jair Bolsonaro. A falta de explicações convincentes de Flávio Bolsonaro e de seu motorista ameaçam comprometer a imagem e a credibilidade do governo, no momento em que ele se prepara para enviar para aprovação do Congresso Nacional seu pacote de medidas de reformas necessárias ao país.
Primeiro a se manifestar foi o chefe do Gabinete Institucional, general Augusto Heleno, ao afirmar que o caso das denúncias do Coaf contra o senador eleito e filho do presidente, Flávio Bolsonaro e seu motorista, não tem nada a ver com o governo do pai. Agora o também general de reserva e vice-presidente Hamilton Mourão faz questão de repetir o que disse seu ex-colega de farda. Todo o círculo militar do governo está insatisfeito com os rumos que o caso vem tomando, mesmo que, de fato, ele não tenha nada a ver diretamente com o governo.
Mas sabem que o caso pode ser cada vez mais potencializado pelo descontentamento de uma imprensa contrariada em seus interesses e com quem o presidente estabeleceu relação de confronto, e também por uma rede digital de blogueiros antes remunerados pelo governo anterior e que agora estão à ver navios. Tudo isso se soma a um cenário difícil, de várias frentes de batalhas.
Já não é segredo o descontentamento dos militares sobre o caso, principalmente pelo silêncio de agora e das explicações anteriores dadas pelos envolvidos. O caso ganhou dimensões inesperadas, com consequências imprevisíveis, e já há comentários que também desagrada e constrange também o ex-juiz Sergio Moro e os integrantes da Operação Lava Jato, que se juntaram à equipe do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Nos bastidores, integrantes do novo governo já começam a associar o caso do filho do presidente empossado com os dos filhos do ex-presidente Lula, preso em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro. Não que haja semelhanças nos ilícitos cometidos nos dois casos. O filho do presidente Bolsonaro tem a seu favor o fato de que não enriqueceu da noite para o dia como aconteceu com as trambicagens armadas no governo Lula, beneficiando com Lulinha e seus irmãos.
A semelhança a que se referem é em relação ao desgaste político do governo, como aconteceu com Lula, diante da suspeita de enriquecimento ilícito e de favorecimento que sempre acompanharam os filhos do ex-presidente enquanto ele ainda estava no cargo e depois, com Dilma. Temem o caso do filho de Bolsonaro comece a comprometer o capital político do pai, necessário para aprovar as reformas, se não houver uma solução rápida. E, se não houver explicações convincentes a serem dadas à opinião pública para virar a página, ou no mínimo desocupar a porta de entrada do Palácio do Planalto.
É uma situação delicada para o presidente Bolsonaro e também para o ex-juiz Sergio Moro, ambos envolvidos na prometida cruzada de combate à corrupção iniciada pelo agora ministro enquanto comandava a Operação Lava Jato. Líderes do PSL, o partido do presidente, já sugerem que Moro dê entrevista para falar sobre o assunto, mas o ministro tenta escapar dessa que se transformou em uma armadilha, com o argumento que não cabe mais a ele fazer qualquer julgamento, já está fora da magistratura, como tem declarado em entrevistas.
A prolongação da crise pode obrigar o presidente vir à público, mais à frente, a manifestar posicionamento mais enérgico e com todos os dissabores familiares em relação ao filho para evitar a contaminação do caso com seu governo. Também para o ministro Moro a situação é delicada. Os desdobramentos do caso podem se tornar a prova de fogo do ex-juiz em sua credibilidade e confiança que a população deposita de sua cruzada de combate efetivo à corrupção. Por mais que se exima agora, Moro sabe que sua imagem e o sucesso de seu projeto, vai depender da posição que ele vai tomar daqui para a frente e diante de eventual comprovação de ilícitos do filho do presidente.
Pedro Ribeiro é jornalista com passagens pela Gazeta do Povo, Folha de Londrina e O Estado do Paraná. Foi pioneiro com a criação do jornal eletrônico Documento Reservado e editor da revista Documento Reservado. Escreveu três livros e atuou em várias assessorias, no governo e na iniciativa privada, e hoje é editor de política do Paraná Portal.
Fonte: Paranaportal