O secretário de Governo já definiu essa possibilidade. A ideia surgiu após conflitos com a imprensa. Coletivas darão lugar aos pronunciamentos do executivo.
O vice-prefeito Caio Aoqui (PSD) e responsável pelas Secretarias de Relações Institucionais, Cultura e Turismo no governo de José Ricardo Raymundo (PV), deve deixar de se relacionar com a imprensa através do setor de Comunicação da prefeitura.
A exemplo de outros dois secretários: Cláudio Zopolato (Governo e Administração) e Jeane Rosin (Planejamento e Desenvolvimento Urbano), Aoqui também estaria com uma sobrecarga de afazeres. Esta deverá ser a argumentação da administração para tirá-lo da linha de frente do setor mais vital de um governo – a comunicação.
O próprio chefe do executivo admitiu em entrevista ao Diário na edição de 7 de abril de que Zopolato está sobrecarregado e Rosin desesperada. Desesperadora também é a comunicação da atual administração. E não é por falta de comunicação não. O problema é que tem gente demais se comunicando de forma equivocada.
Ricardo tem sido alvo de “fogo amigo”. Considerando os votos válidos, ele foi um dos menos votados nas últimas décadas como opositor eleito – 13.622 votos. Isto significa que potencializa a expectativa de que Ricardo e Caio façam diferente. Por que? Talvez em função de que foi eleito sob a bandeira da “renovação”, “um tempo novo” ou após o grito que veio das ruas com as manifestações contra a corrupção e etc.
A verdade, é que os primeiros 100 dias do atual governo, teve muito barulho. Barulho doméstico, da cozinha da “Casa Branca” – Paço Municipal. Jeane Rosin estreou sacudindo o “túmulo” das obras irregulares. “As praças ficaram abandonadas na administração anterior (Manoel Gaspar)”, disse ela. Em seguida não admitiu o abandono de 33 obras sob suspeita de desvio de dinheiro público, quando ela era a secretária de Planejamento e Obras da administração de Waldemir Gonçalves Lopes (PSDB).
O modus operandi foi o mesmo utilizado pelo esquema investigado pela Lava Jato. Os aditamentos eram possivelmente a fórmula para supostamente desviar os recursos destinados às obras e que irrigaram caixa 2 e possibilitaram lavagem de dinheiro praticada por alguns secretários municipais. Teve até aditamento liberado sem mesmo o contrato ter sido assinado. São 24 processos cíveis instaurados.
Se Manoel Gaspar (PMDB) herdou as irregularidades e se envolveu com os contratos em algumas situações, Ricardo “adotou” a “mãe” das obras (Jeane Rosin). Afinal, de uma forma ou de outra, a secretária foi responsável pela pasta que ordenava o planejamento, fiscalização e execução das obras. Admitiu que não assinava porque existia irregularidades e preferiu a omissão. No setor público estamos cheios de mal feitos provocados pela omissão e a prevaricação de quem de direito.
FOGO AMIGO
A partir do dia 10 de janeiro, após três ou quatro coletivas, a comunicação do governo verde estabeleceu-se fora de um tripé estratégico de posicionamento, realizações, imagem e prevaleceu a estratégia camicase – relativo a pequeno avião da força aérea japonesa que, carregado de explosivos, era conduzido contra alvos inimigos, na Segunda Guerra Mundial. Provocava a morte do adversário e a do próprio piloto – suicídio. Assim tem sido a comunicação do governo Ricardo Raymundo.
O piloto não fala e todos gritam de forma desordenada. Atacam a imprensa, vereadores e acertam o comandante da aeronave municipal. A comunicação “aérea” dá resultado, mas é preciso existir por “baixo” um exército de formadores de opinião para dar consistência a imagem de um governo.
O problema é que esses supostos formadores de opinião do atual governo saem atirando para todos os lados e causam mais estragos na imagem da administração que propriamente defender suas eventuais teses nem sempre com argumentos adequados e com fatos concretos. É atirar no próprio pé.
A CULPA
A culpa é de quem? Do comandante do avião ou do responsável pela comunicação. Qualquer secretário deve ter autonomia para conceder entrevista, considerando o pensamento estratégico de comunicação do governo. Talvez esteja neste quesito o principal problema. O pensamento não deve ser o do PV – Partido Verde. O pensamento não deve ser dos deputados que auxiliaram no posicionamento do ex-candidato a prefeito.
A “sala de guerra” deve possuir uma estrutura multidisciplinar, ágil, dotada de prerrogativas administrativas, cujo objetivo central é pensar estrategicamente a política de comunicação do governo. Se essa “sala de guerra”, não mantiver o seu foco ela não poderá sustentar a comunicação da administração. Quando isso acontece, entram no “campo de batalha” os camicases.
Essa atitude da “nova” administração tem provocado a maior repercussão negativa nas redes sociais pulverizadas por secretários, simpatizantes e apaixonados com desordem do pensamento. Usar essa ferramenta de comunicação para atacar ideologias adversas ou fatos contraditórios aos interesses da administração não é racional.
Além de secretários como Cláudio Zopolato e Marcos Zanelato (Desenvolvimento Econômico e Comércio Exterior) e a própria Jeane Rosin que insiste na mentira, tem até gerente de qualidade da empresa do prefeito contribuindo para incendiar a “mãe de todo arsenal” verborrágico – como se diz da pessoa que fala demais, mas não expressa nada de importante.
É GOLPE
Essa discussão “verde” e inócua está ganhando tamanho corpo que faz lembrar o discurso petista sobre o impedimento da presidente Dilma Rousseff – é golpe. Já há gente insinuando que a imprensa tupãense é golpista. Há repórteres mancomunados para fazer planos pouco recomendados com supostos partidos de oposição. Pensar assim, é golpear o próprio cérebro irracional. Não é sensato e não é democrático.
É democrático a liberdade de expressão de todo e qualquer cidadão, desde que este não esteja ligado ao governo por algum motivo. Quando isso acontece, muitas vezes perde a razão e a própria administração cai em descrédito. O efeito é contrário. Este texto não tem a pretensão de fazer uma avaliação de 100 dias de governo, mas é um resumo da torre de babel que tem sido a comunicação da administração.
Sobre a extinção das “coletivas”, na verdade os repórteres sempre foram “pedestais” segurando seus microfones e seus gravadores – sem nada perguntarem. Menos mal, se agora ao invés de coletivas serão pronunciamentos, não haverá mais necessidade da presença de jornalistas na sala de reuniões. Basta o prefeito convocar uma cadeia de rádio e televisão para fazer o seu pronunciamento sozinho, como faz o presidente da República. Para os pensadores da “República Verde”, a imprensa não tem papel. É golpe!