Também estão “pagando o pato” os funcionários da saúde, ambulanceiros, bombeiros, coletores de lixo, coveiros, entre outros.
Se têm pessoas que estão “pagando o pato” nesta pandemia está longe de ser os comerciantes. Numa guerra bélica, existem regras: hospitais, imprensa e escolas, não devem ser alvos. Numa pandemia como a que vivenciamos não há essa mesma garantia.
Ainda durante a guerra, o mundo considera heróis aqueles que salvam o máximo possível de vidas e, entre eles, estão soldados, médicos, enfermeiros e até o potencial bélico dos países que se uniram para eventualmente “proteger” a humanidade de um tirano.
Mas, o que fazer quando o principal inimigo é invisível e não pode ser observado por nenhuma mira telescópica, laser ou que possa ser rastreado por satélite. Neste caso, os nossos heróis devem seguir a mesma ordem de uma guerra bélica. Aqueles que estão na linha de frente – nossos “soldados” de hoje são os médicos, enfermeiros, bombeiros, ambulanceiros, lixeiros e até os coveiros. São estes que efetivamente “pagam o pato”, muitas vezes, com a própria vida.
OS EGOÍSTAS
Considerando que cada categoria busca se auto defender durante uma situação de guerra contra um inimigo mortal, os mais egoístas se sobressaem e todos acreditam que estão imunes ou que sua atividade comercial não é propagadora do vírus.
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Tupã e Região, Milton Zamora, acredita na tese de que só o comércio “paga o pato”.
O presidente Jair Bolsonaro culpa a imprensa por supostamente ter criado pânico sobre covid, quando as mortes aumentam 11% no Brasil, enquanto há um recuou de 6% no mundo. Já a pandemia de sua loucura não tem nenhuma responsabilidade sobre a tragédia que aflige milhões de brasileiros.
Os comerciantes acham que estão “pagando o pato” e culpam os governos estaduais e os prefeitos pelo lockdown. Os mesmos que acreditam nessa tese, não querem os seus filhos nas salas de aula, mas querem os fregueses em seus estabelecimentos.
Os falsos patriotas defendem a economia, mas são incapazes de se salvarem do vírus e também morrem e provocam mortes através de aglomerações – espalhando contaminação em praias e em festas de réveillon.
Os nossos algozes – somos nós mesmos. Criticamos os bons políticos preocupados em amenizar o sofrimento dos infectados, salvaguardando um leito na enfermaria ou na UTI dos hospitais, enquanto os medíocres sambam carnaval e rebolam em festas clandestinas, além dos patifes que se aproveitam para esvaziar os cofres públicos em nome da miséria alheia.
Quando o presidente e seus seguidores negam a ciência, os números e até as mortes, só mesmo o líder de “seita religiosa” que aqui chamamos de guru, a quem Bolsonaro se inspira – OLAVO DE CARVALHO – para justificar ato tão tresloucado.
– “O homem medíocre não acredita no que vê, mas no que aprende a dizer”.
O QUE SE OUVE DIZER?
O comércio é que paga o pato, o vírus só se espalha a partir das 20 horas, o governador faliu o estado, queremos trabalhar, todo mundo vai pegar esse vírus, tão fazendo política, nas eleições não tinha vírus, nas lotéricas e nos supermercados não têm vírus e, por aí vai.
Essa conta que o comerciante acha que só ele está pagando, é de todos nós, enquanto sociedade. O comércio é apenas mais um negócio dentre vários afetados mundo à fora, neste período de pandemia. Só não vai “pagar o pato” quem já “pagou” com a própria vida.
Os familiares de vítimas fatais, os infectados pelo coronavírus e todos os sobreviventes terão que pagá-la. A conta é por nossa conta e devemos arcar com as consequências de nossos próprios atos. A proliferação do vírus acontece através de nossa irresponsabilidade. A maior culpa é da própria sociedade.
Nenhum daqueles que acredita que está pagando o pato, tem capacidade de se colocar no lugar de quem está em leitos de enfermarias e UTIs agonizando sem oxigênio, ou de se sensibilizar com os apelos de enfermeiros, médicos, motoristas de ambulância, profissionais da limpeza de unidades hospitalares, coveiros, entre outros profissionais que também estão pagando um preço alto – pelo risco de contrair a própria morte.
Você pode escolher: ou paga a conta e arca com as consequências, ou prefere não ter essas opções? Quem já morreu não terá essa preocupação e quem sobreviver ainda terá a chance de continuar pagando o pato – sejam comerciantes, empresários, jornalistas, políticos, profissionais liberais, sindicalistas, entre outros.
INSANIDADE
Os piores insanos são aqueles que desdenham da tragédia fazendo contas: São 210 milhões de brasileiros – morreram 260 mil – não significa 1% da população.
Já que foi traçado um paralelo entre o coronavírus e guerras – Guerra do Paraguai: cerca de 50 mil integrantes da tropa brasileira morreram, de 1864 a 1870. De acordo com o IBGE, a estimativa da população em 1869 era de 10.415.000. Em 1872, no 1º censo realizado no Brasil, dois anos após o fim do conflito, a população era de 9.930.478.
Gripe espanhola: cerca de 35 mil brasileiros, de 1918 a 1919. De acordo com o IBGE, em 1920, dois anos após o primeiro caso da doença no país, a população estimada era de 30.635.605, segundo o G1.
Dentro dos primeiros 2-4 meses após os ataques atômicos, os efeitos agudos das explosões mataram entre 90 mil e 166 mil pessoas em Hiroshima e 60 mil e 80 mil seres humanos em Nagasaki; cerca de metade das mortes em cada cidade ocorreu no primeiro dia.
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