Internautas denunciam até supostas mortes por conta da negligência, mas a investigação apurou somente os estelionatos que os proprietários praticaram
Quem conhecia o histórico dos proprietários das Clínicas Home Care – Atentos, em Tupã (SP), André Aparecido Felipe e Amaro já suspeitava sobre o que pudesse acontecer por trás dos altos muros dos estabelecimentos localizados nas Ruas Guaranis 1.441, Potiguaras, Tiradentes e, depois, na Itapicurus, 269. Os últimos endereços com unidades funcionando clandestinamente.
Ex-funcionários que atuaram nos estabelecimentos, alguns inclusive, deixaram o emprego sem receber pelo trabalho executado informaram que além dos estelionatos continuados contra os pacientes, os idosos também eram maltratados.
Apesar de os fatos terem sido relatados, é quase impossível a existência de prova material sobre os atos. “Nós não podíamos portar o celular, eles proibiam, talvez temendo que a gente gravasse em áudio ou em vídeo o tratamento agressivo contra os pacientes”, afirmou uma ex-colaboradora.
Segundo ela, os idosos eram puxados pelos braços, ficavam sem se alimentar e alguns eram até amarrados. As amarras só eram retiradas quando se aproximava o horário de visita previamente agendada por algum familiar.
Muitos dos pacientes dessas clínicas são portadores de doenças crônicas – neurodegenerativas, como Alzheimer, Parkinson ou que necessitam de cuidados paliativos.
DESNUTRIDA
Uma dessas vítimas foi Doralice Luppe, 82 anos, transferida para outra clínica, onde chegou à unidade desnutrida segundo os cuidadores. Além de ter sofrido possíveis maus tratos, teve três empréstimos feitos em sua conta bancária, no valor total de R$ 20 mil. Sua filha, que reside há 20 anos em Caxias do Sul (RS) e vinha periodicamente visitar a mãe contou que estranhava algumas atitudes da direção da clínica.
“Por exemplo, os pagamentos não eram feitos no nome da empresa. Os depósitos tinham que ser feitos em nomes de terceiros, possíveis laranjas. Eu exigi a devolução do cartão bancário de minha mãe, quando descobri os empréstimos. Cobrei e me disseram que iriam me reembolsar, mas o fato é que o que fizeram com minha mãe não era o certo. Nem com ela e nem com nenhum outro idoso”, disse Luppe.
As buscas feitas pela polícia foram realizadas nos três estabelecimentos, mas por último, apenas o Lar de Idosos e Home Care, instalado na Rua Guaranis, 1.441, esquina com Tapajós (foto) foi lacrado no sábado (9) pela Vigilância Sanitária e Ministério Público de Tupã, após a saída dos últimos pacientes do local.
A prefeitura até subsidiava a manutenção de alguns idosos no local pela ausência de condições financeiras de seus familiares, segundo o delegado Paulo Cesar Pardo Soares, que investigou os estelionatos. André Felipe, um dos sócios da clínica está preso a pedido do promotor Rodrigo Caldeira.
NEGLIGÊNCIA GRAVE
Uma leitora ao saber do ocorrido fez um desabafo: comentou como sua mãe foi negligenciada na clínica de André e Amaro. Maria Barbosa Viana resistiu aos maus tratos, graças a intervenção de familiares que residem na região de Ribeirão Preto.
“Eu fiz um boletim de ocorrência contra esses indivíduos, minha mãe foi internada em estado grave na Santa Casa de Misericórdia com uma ferida enorme em todo corpo. Eu não moro em Tupã, mas sou tupãense e eu sei que aí tem gente digna. Ouvimos muitos relatos sobre maus tratos dessa clínica. Depois de 24 dias em estado grave, minha mãe saiu do hospital e a transferimos para outra clínica – a Galileu. Eu entrava na clínica sem horário marcado. Na clínica do André tinha que marcar horário senão a gente não entrava. Desculpa meu desabafo, mas sofremos muito com tudo isso e ficamos doentes, por nos sentirmos culpadas de colocar nossa mãe nessa clínica. Eu moro em Bebedouro, e ela não queria ficar aqui. Minhas irmãs precisam trabalhar. Achamos que estava bem cuidada. Mãe, olha aí, eu falei que eles iam pagar”, escreveu ao blog, Débora Sueli Viana Santana. Maria Barbosa Viana já é falecida.
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