Jô Soares na última gravação do Meninas do Jô (Foto: Carol Caminha/Gshow)
A compra de computadores ao custo cada um de R$ 11 mil transformou um fato jornalístico em motivo de piada nacional. Ribeirão ameaçou processar o Jô, mas desistiu da ideia.
Do Jornal Nacional (JN) para o Programa do Jô, e virou piada. No quadro “Meninas do Jô”, onde o apresentador Jô Soares comandava uma mesa redonda sobre política com as jornalistas Ana Maria Tahan, Cristiana Lobo, Natuza Nery e Lucia Hippolito, o assunto foi discutido por 3 minutos e 46 segundos. Relembre: https://www.youtube.com/watch?v=atfKykHZAxU
Antônio Alves de Sousa, o “Ribeirão” (PP) justificou a compra dos computadores de “boa qualidade” pelo fato de os mesmos se tornarem mais baratos com o tempo, “caso contrário, em menos de um ano o notebook estaria defasado”.
Jô Soares não perdeu a piada: “Um computador que custe R$ 11 mil só vai ficar defasado em 3012”, para o delírio da plateia.
Hoje também é a primeira vez que tenho a oportunidade de escrever pela primeira vez de forma ampla sobre o assunto. O blog nasceu somente em 2011.
RASCUNHO DE PROCESSO
Recentemente numa conversa com o vereador Ribeirão, ele me mostrou o esboço de um processo que pensou em mover contra Jô Soares, mas desistiu da ideia. Segundo ele mesmo, a briga seria desgastante.
13 anos se passaram, mas segue vivo na reminiscência de todos como se fosse hoje (5), dia em que o país relembra os melhores momentos da vida e das obras de um dos humoristas mais celebrados da televisão brasileira.
Nessa nova dimensão em que você se encontra, Jô, 3012 é logo ali, como a memória dos notebooks de Tupã.
A REPORTAGEM
Era o dia 21 de maio de 2009. À época eu era o editor responsável pelo Jornal da Cidade (Rádio Cidade FM). Naquela manhã, o sócio proprietário da emissora, Carlos Marques Pereira (In Memoriam) levou à redação o primeiro e único exemplar da Folha do Povo (extinto).
Isso aconteceu exatamente após cobrá-lo sobre a necessidade de todos os dias levar à rádio um exemplar do periódico de sua propriedade. Era o mínimo que se esperava de alguém que atuava como radiodifusor.
Quatro anos após minha estreia na emissora (em 2005) havia sido a primeira vez que um exemplar da Folha do Povo chegava à sede da emissora em Bastos (SP). O jornal publicava os atos institucionais da Câmara de Tupã, e isso era do interesse público.
Dei uma folheada rápida nas páginas e fui direto aos atos do Legislativo tupãense, quando me deparei com a homologação de uma licitação de compra de 10 computadores (notebooks) para a Câmara.
Naquela legislatura eram 11 os parlamentares, mas alguns dos representantes do povo, entre eles, Valdemar Manzano Moreno (In Memoriam) não queria o aparelho.
O que chamava a atenção não era a informatização que se fazia necessária, mas sim o valor de cada notebook R$ 11 mil. Rapidamente agendei uma entrevista ao vivo com o presidente da Câmara, Ribeirão para questioná-lo sobre os valores. Ele nunca fugiu de uma discussão.
A entrevista foi ao ar às 11h30, o principal assunto daquele dia pelo impacto que o fato proporcionava. A reportagem foi longa, Ribeirão foi questionado de forma intensa, mas manteve a discussão com argumentos incisivos, bem como a homologação da compra.
A repercussão também foi instantânea e os desdobramentos se seguiram e foram potencializados com a manchete de William Bonner – a seguir: saiba quanto vai custar a inclusão digital de vereadores de uma Câmara do interior de São Paulo. Era o chamariz que confirmava que o escândalo teria repercussão mundial.
HOMOLOGAR
O termo homologação na administração pública significa aprovação, ratificação ou confirmação pela autoridade judicial ou administrativa, de certos atos particulares, a fim de que possam se investir de força executória ou se apresentar com validade jurídica.
Portanto, a publicação daquele ato na Folha do Povo era a mais pura expressão da verdade de que a Câmara de Tupã havia adquirido 10 notebooks “avaliados” em R$ 110 mil.
Em 2009, nós “pautávamos” várias emissoras de TV, entre as quais, a TV Tem, em Bauru e, acreditei que o assunto poderia render uma reportagem regional.
Em contato com a editoria, através da jornalista Ana Luiza Jacques informei o ocorrido, fornecendo contatos, e detalhes sobre o único programa social que existia no município de inclusão digital – chamado Acessa São Paulo.
O objetivo era contrapor a inclusão digital que os parlamentares tupãenses pretendiam, quando uma minoria de cidadãos da periferia encontrava dificuldade para conseguir a façanha.
A necessidade da aquisição de “supercomputadores” para os legisladores era discutível para a época, sobretudo, pelos valores. O objetivo era o de apenas encaminhar a pauta das sessões camarárias.
Com a pauta em mãos, a TV TEM encaminhou para Tupã, o jornalista Giuliano Tamura – um indício de que a reportagem poderia ganhar repercussão nacional. Existe uma hierarquia quando a emissora pretende dar repercussão nacional numa reportagem.
Por volta das 15 horas, Ana Jacques me informou de que a reportagem de fato seria apresentada na edição regional da afiliada e no Jornal Nacional, mas só foi levada ao ar no JN.
Com o interesse da TV e, após a reportagem ser concluída e enviada para divulgação, é que Ribeirão cancelou a homologação e, por consequência, a compra dos “valiosos” notebooks.
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