Prefeitos assinam cartinha de compromisso contra o comunismo

Prefeitos de Tupã e de Herculândia, Caio Aoqui (PSD) e Paulo Sérgio de Oliveira, o “Paulinho” (PP), respectivamente e Kassab ex-secretário de Doria – Foto: Divulgação PMH.

O evento de apoio a Bolsonaro e Tarcísio teria sido promovido por um empresário do agronegócio.

Foto: Divulgação PMH

O exemplo de que a região está fadada a seguir nesse isolamento de desenvolvimento ficou explícito na falta de compromisso político dos prefeitos da Alta Paulista.

Apenas com o ânimo de projeto pessoal, nesta sexta-feira (14) foi dado mais um passo com viés ideológico alinhado com a extrema direita, mas sem nenhuma contrapartida real de interesse público.

Os prefeitos, como soldadinhos de chumbo de um conto de fadas estiveram em Marília, onde foram recepcionados pelo ex-secretário da Casa Civil do governo João Doria, Gilberto Kassab (PSD), aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Foi Kassab quem indicou o vice na chapa de Tarcísio ao governo de São Paulo, o ex-prefeito de São José dos Campos, Felício Ramuth.

Kassab é o mesmo do famoso jingle da dupla com Rodrigo Garcia (PSDB). “Quem sabe, sabe vota comigo, federal é Kassab, estadual é Rodrigo”.

LIBERDADE “PRA NÓS”

Foto: Divulgação PMH

Segundo as informações, o encontro de Marília teria sido organizado por um grande empresário do segmento agroindustrial da região.

Num ato contrário à boa lógica, o empresário defende a liberdade de ir e vir ao mesmo tempo que a empresa de sua família pratica a escalada do assédio eleitoral e banalização por empregados, o que é crime, com objetivo que seus colaboradores votem em Bolsonaro. Isso não é democrático e não significa liberdade.

Em outra ocasião, um outro empresário da mesma empresa foi flagrado distribuindo dinheiro para pessoas arregimentadas para protestos em São Paulo prol ao presidente Jair Bolsonaro e contra a democracia, defendendo o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.

É nesse contexto de paradoxo, que contraria a crença ordinária e compartilhada pela maioria, de que os prefeitos se submeteram ao constrangimento de assinar a “cartinha” de compromisso de supostamente “escrever o nome na história, na libertação do país, do comunismo”.

A teoria da conspiração, baseada na desinformação foi a chama que acendeu a multidão que invadiu o Capitólio, nos EUA, mostrando os efeitos desastrosos que essas teorias conseguem produzir, explica a ciência.

Os insurgentes invadiram o Capitólio dos Estados Unidos em 6 de janeiro, criando caos e desafiando os membros do legislativo que estavam reunidos para certificar os votos eleitorais. Segundo eles, a eleição presidencial foi fraudada — uma ideia defendida por um líder poderoso e de sua confiança.

É a mesma tese defendida pelo bolsonarismo: “urnas fraudulentas, comunismo é uma ameaça, vamos perder o direito de ir e vir, direito a propriedade e, por isso, defendemos a liberdade”. É a mesma narrativa dos anos 60, quando culminou com o golpe de Estado no Brasil, em 1964.

Liberdade é sinônimo de democracia e é isso que permite a todos o direito de ir e vir e votar em quem quiser e desejar.

Num momento importante da história estamos assistindo os prefeitos que deveriam ter o interesse em defender suas cidades, e exigir um novo pacto federativo, por exemplo, se aventurando num conto surreal, diante de tantas necessidades reais e urgentes para a região.

DE CORREDOR DA FOME AOS PEDÁGIOS

Das 21 praças de pedágio administradas pela Eixo SP, sete, ou seja, 33%, estão localizadas na Rodovia “Comandante João Ribeiro de Barros” (SP-294).

A região da Alta Paulista, localizada no extremo oeste do estado de São Paulo, já foi chamada de corredor da fome, dos presídios, mais recentemente dos pedágios (do PSDB de João Doria, Kassab e Rodrigo).

Rodrigo até o primeiro turno dizia que iria defender São Paulo dessa briga ideológica, mas por questões fisiológicas também se rendeu depois de sofrer derrota acachapante imposta pela polarização entre PT e o bolsonarismo, e que levou a maioria do eleitorado do interior de São Paulo a votar em Tarcísio.

OPORTUNIDADE

Foto: Arte/PMF

A oportunidade dos prefeitos agora seria elaborar um plano de ação de desenvolvimento sustentável para a região, com a participação forte dos governos estadual e federal.

O ideal é que a proposta tivesse sido apresentada a todos os candidatos que disputam o pleito seja para o governo do estado ou federal.

Os candidatos é quem deveriam assinar um termo de compromisso com o povo da região, garantindo empreender esforços para industrializá-la, assim como foi feito há mais de 55 anos, em plena selva, com a criação da Zona Franca de Manaus (ZFM).

Uma das saídas seria inseri-la no Projeto de Lei de Conversão, através do qual, o Poder Executivo autorizado a criar as Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs), nas regiões menos desenvolvidas. A matéria disciplina ainda que as compras no mercado interno ou importações, assim como aquisição de matéria-prima, produtos intermediários e materiais de embalagem, estarão suspensas de vários tributos, como as alíquotas da contribuição para o PIS/Pasep e Cofins.

As ZPE caracterizam-se como áreas de livre comércio com o exterior, destinadas à instalação de empresas direcionadas para a produção de bens a serem comercializados no exterior, a prestação de serviços vinculados à industrialização das mercadorias a serem exportadas ou a prestação de serviços a serem comercializados ou destinados exclusivamente para o exterior, consideradas zonas primárias para efeito de controle aduaneiro.”

VISIONÁRIO

Essa proposta chegou a ser apresentada pelo candidato e prefeito eleito em 2012, em Tupã, Manoel Gaspar, mas não houve empenho suficiente para levar adiante a ideia e nenhum sucessor teve a mesma visão visionária.

Existem pelos menos 22 ZPEs em diferentes fases pré operacionais, distribuídas em 18 estados brasileiros, entre as quais, uma delas, em Fernandópolis, localizada em uma das regiões (noroeste) mais prósperas do estado de São Paulo, pela sua posição geográfica e forte representatividade política.

Sem essa ação, e com o voto de cabresto de prefeitos, sem nenhuma liderança política capaz de conduzir essa região para o sucesso, estamos fadados ao fracasso.

A região é geograficamente desfavorável ao investimento. O trem que permitia escoar a produção a um custo menor, desapareceu dos trilhos e, depois, temos apenas uma única rodovia importante como elo entre os municípios e o Mato Grosso do Sul.

BECO SEM SAÍDA

Do agro, apenas passam os grãos da região produtora, através da rodovia Comandante João Ribeiro de Barros (SP-294), graças a ação de prefeitos

Foto: Mapionet

visionários do passado, a saber: Manoel Gaspar, Odemar Carvalho do Val, o “Dema” (Ouro Verde) e pode-se incluir Valter Luiz Martins, o “Valtinho” (Osvaldo Cruz), entre outros, da mesma época, que lideraram as ações da AMNAP – Associação dos Municípios da Nova Alta Paulista.

Promoveram em Tupã, o 1º e único Fórum de Desenvolvimento para a Alta Paulista que culminou no atendimento de uma antiga reivindicação para tirar a região de um beco sem saída. Assim como a linha de trem acaba em Panorama, a principal rodovia também terminava em Paulicéia.

O saudoso governador Mário Covas trouxe todo o seu staff político para Tupã e assinou o decreto que permitia elaborar o projeto para a construção da ponte sobre o Rio Paraná, interligando a região à Brasilândia (MS). Desde 2008 a ponte é utilizada por usuários.

Essa é uma ação que isolada talvez não tenha sido suficiente para trazer o desenvolvimento almejado, mas outras que deveriam ser exigidas pelos sucessores e de presidentes da AMNAP poderiam potencializar esse conceito. O conceito   de que, se a região se desenvolver, todas as cidades serão beneficiadas.

Mas para isso, os atuais prefeitos precisam abrir mão de seus projetinhos pessoais de jogar para a torcida e trabalhar pela elaboração de projetos de interesse público.

Num futuro não muito distante, vocês serão cobrados pela história, não pela libertação do país, do comunismo, mas o que de fato fizeram para seu povo – hoje envolto numa bolha populista de direita e de esquerda.

A política é muito maior que discussão ideológica de ambos os lados. A política pública é a real ação capaz de mudar a vida e o futuro de uma cidade, um estado e de uma nação.

Após as eleições, em 30 de outubro, a região continuará reclamando a falta de emprego, renda e de perspectiva de vida, enquanto Bolsonaro ou Lula, Tarcísio ou Haddad seguirão descompromissados com os nossos problemas, porque os nossos líderes são pequenos e governam para si próprios.

One thought on “Prefeitos assinam cartinha de compromisso contra o comunismo

  1. Esses prefeitos, especialmente Caio Aoqui, cada vez mais se apequenam na política. Cartinha contra o comunismo? Isso é que é falta do que fazer. Essa jogada de ser contra o comunismo é simplesmente patética, para dizer o mínimo. Está dando resposta aos bolsonaristas, ops, terroristas que pregam a ideia de liberdade e intervenção militar.

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