Por Claudio Barros
Duas cidades brasileiras, uma na Bahia, outra em Mato Grosso, agora “pertencem” a Deus. Elas foram dadas para o Altíssimo através de decretos de um novo e de uma ex-prefeita, mesmo havendo a separação entre Estado e religião no país desde 1890, quando o governo provisório da República brasileira proibiu a intervenção da autoridade federal e dos estados federados em matéria religiosa, consagrando “a plena liberdade de cultos”.
O princípio da separação entre Estado e religião vem sendo mantido desde então, o que o que não desencoraja nem impede prefeitos de “entreguem as chaves de suas cidades a Deus”.
Deu-se assim em Guanambi, município onde moram 862, mil almas, na Bahia. Em seu primeiro ato, o prefeito Jairo Magalhães, recém-empossado prefeito, assinou um ato que “entrega a chave da cidade ao Senhor Jesus Cristo”. O decreto está publicado no Diário Oficial do Município de segunda-feira (2/1).
A mesma coisa fez a ex-prefeita de Sapezal (23,5 mil moradores), em Mato Grosso. Em vez de entregar a cidade ao sucessor, ela baixou um decreto declarando que “a cidade pertence a Deus e que todos os setores da Prefeitura Municipal estarão sobre a cobertura do altíssimo”.
Os decretos criam uma espécie de reserva de mercado para o Deus cristão, pois cancelam, “em nome de Jesus, todos os pactos realizados com qualquer outro Deus ou entidades espirituais”. Ao encerrar e garantir que os municípios continuarão sob as bênçãos de Deus e livre de todos os males, os prefeitos afirmam: “E a minha palavra é irrevogável!”.