A Sucen nunca agiu em parceria com o município, no controle e combate ao inseto transmissor da doença de chagas.
A prefeitura de Tupã e a Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) nunca desenvolveram ação de prevenção e combate ao bicho barbeiro – transmissor da doença de chagas. Não há qualquer monitoramento para controle do inseto.
Esse controle só é possível com a poda das palmeiras e a retirada dos resíduos de ninhos de aves como as de maritacas e pombos.
A presença desses animais silvestres aumentou consideravelmente, após a introdução das plantas na área central de Tupã, ainda na administração de Waldemir Gonçalves Lopes (PSDB).
Tupã possui predominantemente as palmeiras rabo-de-peixe, imperial e jerivá ou baba-de-boi, de acordo com a Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente.
RESPONSABILIDADE
Segundo o chefe do Setor de Endemias de Tupã, Marco Antônio de Barros (foto), o controle de insetos barbeiros é de responsabilidade da Sucen Regional de Marília. “Minha equipe não trabalha com barbeiro. A Sucen que monitora”, disse.
Na tentativa de falar com a diretora da Sucen, em Marília, Raquel Cristina Noronha Silva, fomos informados que era preciso manter contato com a assessoria de imprensa do órgão em São Paulo, mas o número de telefone informado é inexistente.
Por outros meios conseguimos o telefone da Superintendência em São Paulo, mas não há assessoria de imprensa no local.
De acordo com a Sucen, na capital, a assessoria que se relaciona com a imprensa é lotada na Secretaria da Saúde do Estado, mas a Telefônica informa que o número também não existe.
DESCASO DA SUCEN
Pelo que parece o que existe é um grande descaso com a saúde pública – considerando a ineficiente ação da Sucen Regional de Marília. Diferente do apoio técnico da Sucen de Araçatuba que mantém estreita parceria com a prefeitura de Birigui para o controle do bicho.
Em Birigui, os insetos barbeiros recolhidos pelos profissionais são encaminhados para o laboratório da Sucen em Araçatuba, que fará a análise para saber se estão contaminados ou não com o protozoário Trypanossoma cruzi, agente causador da doença de Chagas.
“Há mais de 25 anos o município não registra casos de insetos contaminados. Mas devemos continuar atentos, por isso, fazemos esse trabalho anualmente para monitoramento e controle do bicho barbeiro”, disse a agente de endemias da Divisão de Controle de Vetores, Rosilene Oliveira Montanholi.
“Estamos fazendo o mutirão para pesquisa do inseto nas palmeiras desses pontos definidos como prioritários, por existirem a presença de pombos e maritacas, que trazem o barbeiro em meios as suas penas. O inseto se abriga nos ninhos e se alimentam do sangue das aves”, comentou Rosilene.
Os insetos também são trazidos por animais como gambás e saguis que estão cada vez mais próximos às residências e até mesmo animais domésticos como cães e gatos. Logo, esses bichos domésticos devem ser protegidos também.
DOENÇA DE CHAGAS
Mesmo com o controle da ocorrência de novos casos em território nacional, a magnitude da doença de Chagas no Brasil permanece relevante, segundo o Ministério da Saúde e Fiocruz, em matéria de Sonia Marques para a Revista Circuito.
Estudos recentes estimam que a infecção atinge de 1% a 2,4% da população, o equivalente a 1,9 a 4,6 milhões de pessoas. A taxa de mortalidade (entre 2014 e 2015) foi de 2,19 a cada 100 mil habitantes, de acordo com dados do Datasus, do Ministério da Saúde.
O parasita foi descoberto pelo médico e cientista Carlos Chagas, daí o nome da doença. Segundo os dados levantados pela Sucen, esse inseto de hábitos noturnos vive nas frestas das casas de pau-a-pique, ninhos de pássaros, tocas de animais, casca de troncos de árvores e embaixo de pedras.
Na verdade, não é a picada do mosquito que transmite a doença de chagas (o inseto se infecta ao sugar o sangue de algum animal como gambás ou pequenos roedores contaminado pelo Trypanossoma).
De acordo com informações divulgadas pelo FioCruz, a transmissão acontece pelas fezes do “barbeiro” depositadas sobre a pele da pessoa, enquanto o inseto suga o sangue.
A picada provoca coceira, facilitando a entrada do tripanossomo no organismo, o que também pode ocorrer pela mucosa dos olhos, do nariz e da boca ou por feridas e cortes recentes na pele.
Outros mecanismos de transmissão são a transfusão de sangue de doador portador da doença, a transmissão vertical via placenta (mãe para filho). A outra forma de contaminação é através de alimentos triturados com o inseto, como a cana-de-açucar e o açaí por exemplo.
Febre, aparecimento de gânglios, crescimento do baço e do fígado, alterações elétricas do coração e/ou inflamação das meninges nos casos graves. Na fase aguda, os sintomas duram de três a oito semanas. Na crônica, os sintomas estão relacionados a distúrbios no coração e/ou no esôfago e no intestino. Cerca de 70% dos portadores da doença permanecem de duas a três décadas na chamada forma assintomática ou indeterminada da doença.
A prevenção da doença de Chagas está intimamente relacionada à forma de transmissão. De acordo com o Ministério da Saúde, uma das formas de controle é evitar que o “barbeiro” forme colônias dentro das residências, por meio da utilização de inseticidas residuais por equipe técnica habilitada.
“Em áreas onde os insetos possam entrar nas casas voando pelas aberturas ou frestas, podem-se usar mosquiteiros ou telas metálicas.”
Quando o morador encontrar o inseto devem entrar em contato com o departamento de zoonoses da Secretaria de Saúde. Recomenda-se:
– Não esmagar, apertar, bater ou danificar o inseto;
-Proteger a mão com luva ou saco plástico;
-Os insetos deverão ser acondicionados em recipientes plásticos, com tampa de rosca para evitar a fuga e preferencialmente vivos.