O oportunismo do deputado federal pode provocar racha na base aliada do prefeito e até na maçonaria. Gussi quer garantir apoio exclusivo à sua reeleição. Aoqui apoia o também deputado federal Walter Ihoshi (PSD).
Do primeiro tijolo que construiu o alicerce da vitória ao dessabor da desunião dos “grãos-mestres” em menos de seis meses de administração, José Ricardo Raymundo (PV), e Caio Aoqui (PSD) são jogados em rota de conflito para o deleite dos comandados do deputado federal Evandro Gussi (PV).
Mesmo literalmente distante dos interesses de desenvolvimento de Tupã, e bem mais próximo de seu próprio projeto de governo defendido pelo Partido Verde, que nos remete às origens do PT – Partido dos Trabalhadores, o parlamentar vai agindo como uma eminência parda, um poderoso conselheiro que atua “nos bastidores” dando suas cartadas.
As cartadas seguem na direção de uniformizar o pensamento da administração, às vésperas das eleições de 2018. O objetivo é um só: exclusividade de apoio ao Projeto PV. A República Verde citada pela primeira vez neste blog toma forma e contornos.
Já é admitida até pelo líder do prefeito na Câmara, o vereador Gilberto Neves Cruz, o “Capitão Neves” (PV). “Eu também faço parte da República Verde”, admitiu sorrindo da tribuna do Legislativo, durante a sessão da última segunda-feira (19).
ISOLAMENTO
O principal objetivo agora é isolar definitivamente o vice-prefeito Caio Aoqui. Como divulgamos em 17 de abril, menos de três meses após a posse, de que Caio deveria deixar a articulação com a imprensa, a situação está mais explícita a menos de seis meses do governo de Ricardo Raymundo.
Sobreviventes de um episódio registrado há um ano, quando a dupla ocupava a cadeira na Câmara e votou contra a redução do número de edis e de salários, contrariando a intenção de lojas maçônicas aos quais os dois são integrantes, por ironia do destino, podem ficar em lados opostos até dentro da sociedade secreta – maçonaria.
Quanto a “sociedade pública” que levou os dois ao poder está sendo falida pelos interesses nada implícitos de Gussi e sua “trupe”. Para as pretensões de Ricardo Raymundo poderia ser uma sessão de comédia se não fosse trágico para suas pretensas intenções políticas. Sem direção e sem um objetivo cristalino de futuro, a administração segue num ritmo de um dia por vez, mas sem nenhuma perspectiva de onde pretende chegar.
Na ausência dessa personificação de liderança do chefe do executivo tupãense, os destinos políticos do município seguem sendo conduzidos por amadores.
A FISGADA
A gota d’água fisgou olhares de analistas na semana retrasada durante viagem de pescaria de Ricardo Raymundo e do secretário de Governo e Administração, Claudio Zopolato. A dúvida é se a viagem foi internacional ou dentro do território brasileiro. Independentemente deste detalhe, o que chamou a atenção foi a ausência de Caio Aoqui, como detentor do cargo de vice-prefeito, e mandatário das Secretarias de Cultura, Turismo e Relações Institucionais.
Na ausência do prefeito, Marcus Zanelato – secretário de Desenvolvimento Econômico e Comércio Exterior foi convocado para despachar no gabinete de Ricardo Raymundo, quando o natural, até pela amizade que desenvolveram durante a campanha deveria ser atribuída a Caio Aoqui, tanto é verdade que o vice iniciou o governo com amplos poderes. Inexperiente na política, Zanelato contou com apoio de dois assessores fortemente ligados ao deputado Evandro Gussi e ao PV.
Entrevistado pela reportagem o vice-prefeito Caio Aoqui não admitiu qualquer abalo no alicerce do projeto traçado pela chapa PV/PSD, que levou ambos ao comando do executivo. Mas, o semblante deixava transparecer o incomodo sobre o momento político de uma crise velada, e que já extrapola os bastidores do paço municipal.
CONSPIRAÇÃO
Para justificar o completo isolamento de Caio Aoqui das decisões políticas da administração e das pretensões do PV, a ordem é disseminar boatos sobre as intenções do vice-prefeito. Um deles é o de que Caio supostamente teria se articulado com o vereador Tiago Matias (PRP), para ampliar as críticas ao prefeito com objetivo de enfraquecê-lo diante da opinião pública. O objetivo, segundo os criadores da tese, é subjetivo. É algo imaginado por alguém com relação muito pessoal com o prefeito Ricardo Raymundo.
O prefeito já teria comentado a interlocutores de que não tem nenhuma pretensão política após o seu mandato. A quem afirme que houve até desprezo ao cargo que os eleitores confiaram – tipo “eu renuncio e vou cuidar da minha vida”. Mais ou menos como pensou o ex-prefeito Manoel Gaspar e até tentou renunciar, mas sem sucesso.
Para os fiéis seguidores da doutrina da “República Verde”, uma eventual desistência de Ricardo deixaria Caio Aoqui no poder. Para afastar qualquer possibilidade ainda que remota disso acontecer, criou-se essa tese conspiratória típica de mentes políticas perturbadas pela sede de poder.
ESVAZIAMENTO
A outra acusação é a de que Aoqui não soube conduzir uma relação harmoniosa com a imprensa, capaz de fazê-la ser complacente com a falta de atitude da atual administração. Esta atribuição estaria na articulação do vice-prefeito também como secretário de Relações Institucionais.
Por tudo isso, cogita-se um esvaziamento dos poderes de Caio Aoqui que hoje comanda três pastas: Cultura, Turismo e Relações Institucionais. Para o Turismo teria sido convidado Duda Gimenez, Relações Institucionais – Bruno Giuseph Oliveira Zamai, que atua na área de RH – Recursos Humanos. Também há informação de que teria recusado a proposta.
CAIXA 2
Já para a Cultura houve “negociação” eventualmente conduzida pelo líder do prefeito, Capitão Neves. Segundo a reportagem apurou na sexta-feira (23), o parlamentar tentava convencer um candidato ao cargo de secretário oferecendo uma compensação financeira “por fora”. O ouvinte relutou. Informado sobre o fato, o prefeito Ricardo Raymundo teria sugerido que o Capitão Neves pagasse a diferença salarial do próprio bolso.
É nesta direção que caminha os rumos políticos de Tupã. O poder segue contaminando os homens de índole acima de qualquer suspeita, seja por falha técnica ou por desconhecimento político.
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