Os deputados federais Mussi e Pinato estão possivelmente por trás da trama. Isso explica as constantes viagens do parlamentar à Brasília. O objetivo era a resolução de eventuais problemas pessoais com seus colegas de partido.
Nove meses. Esse foi o tempo de “gestação” para formatar o embrião da renúncia do vereador Pastor Rudynei Monteiro (PP) e abrir espaço ao suplente Antônio Alves de Sousa, o “Ribeirão” (PP). Os dois haviam negado essa possibilidade após o blog noticiar a intenção. À época, logo após as eleições de 2016. A repercussão foi negativa.
Mas, o tempo senhor da razão serviu para concretizar o retorno de Ribeirão. A ideia foi sendo pavimentada e discutida durante as constantes viagens de Rudynei à Brasília. Como o blog divulgou, o parlamentar foi o campeão de viagens a “serviço” do município. Na maioria das vezes esteve acompanhado de Tiago Matias (PRP), mas as conversas para tratar sobre a renúncia eram as portas fechadas.
As viagens se intensificaram pelo fato de Ribeirão assessorar os deputados federais Guilherme Mussi e Fausto Pinato, ambos do PP. Como justificativa, Ribeirão abria as portas dos gabinetes dos parlamentares para Rudynei e Matias, mas quando o assunto tratado era a formatação da renúncia, Matias ficava do lado de fora da sala. Ribeirão não confiava no jovem vereador. Hoje Matias faz parte da base de apoio do prefeito Ricardo Raymundo (PV).
Ardiloso, Ribeirão orientou Rudynei até no discurso. Da tribuna da Câmara, o Pastor expressa – “já viabilizei mais de R$ 300 mil para o município”. Em outras palavras quer dizer – “o vereador que apresenta resultado é barato para o município”. Esse também sempre foi o discurso preferido de Ribeirão. O discurso serve ainda como justificativa para as constantes “escapadas” à Brasília.
CUSTO MUNICIPAL
Por mês, em média, Pastor Rudynei Monteiro custou o dobro de um vereador para o município (mais de R$ 10 mil) incluindo salário e as viagens. Já Ribeirão, mesmo longe da Câmara Municipal, vivendo no cérebro do Poder em Brasília, não desperdiça a oportunidade para usufruir das benesses públicas.
Segundo o blog apurou junto ao presidente da Câmara, Valter Moreno Panhossi (DEM), Rudynei costumava levar caronas para a capital federal. Algumas vezes Ribeirão, e em outras, um morador de Herculândia. O carona de Herculândia não foi identificado, mas segundo consta seria integrante da igreja comandada pelo Pastor e vereador Rudynei Monteiro.
A especulação que existia no primeiro semestre era que o ex-vereador Ribeirão, através dos deputados que representa seria até capaz de convencer a cúpula da igreja a convidar Rudynei para se transferir para São Paulo, mas o caminho percorrido foi mais simples e não saiu do campo de atuação do suplente – a política.
OS INTERESSES
A solução encontrada contempla todos os interesses pessoais e nenhum “interesse republicano”. Estão juntos na empreitada os deputados Mussi e Pinato. Os dois “bancam” com recursos da Câmara dos Deputados o ex-vereador Ribeirão. Mussi o elegeu representante do partido na região da Alta Paulista. É com dinheiro público que Ribeirão defende os interesses dos deputados e do PP.
Ribeirão convenceu os deputados, que voltando ao Legislativo tupãense consegue articular mais de perto e com mais força o apoio nas próximas eleições, em 2018, mas não ficará longe de Brasília. Agora, com recursos da Câmara de Tupã, vai continuar viajando para Brasília quantas vezes forem necessárias. Em contrapartida, os salários que eram destinados a Ribeirão deverão ser repassados ao vereador Rudynei Monteiro, mas sua atuação deverá ser em São Paulo.
Desta forma, é possível que nos próximos dias, a partir de outubro, Rudynei deverá anunciar sua renúncia no Legislativo alegando que recebeu uma proposta diferente e que o seduziu a tomar novos rumos em sua carreira política e pessoal. É até possível que “abandone” a igreja da qual é pastor. Mesmo que pudesse atuar a partir de Tupã, como fez Ribeirão, Rudynei preferiria ir para a capital paulista.
MÁQUINA DE DINHEIRO
Enquanto isso, Ribeirão que sequer reassumiu a cadeira, já pensa em articular o nome de um possível candidato a prefeito para as eleições de 2020 e, assim, voltar a reinar entre os Poderes Executivo e Legislativo. Mas, financeiramente não seria um negócio da China para Ribeirão? Não, Ribeirão sempre “fez dinheiro” atuando como parlamentar. “Eu custo barato para o município”, enfatiza. “Esse faz!” é seu slogan.
O patrimônio de “Toninho” quando vendedor de produtos de higiene e limpeza, naquele velho Chevrolet Monza, para o do vereador Ribeirão cresceu vertiginosamente. Para quem dormia na garagem da casa de um amigo, e dentro do próprio carro até o final dos anos 80, sua vida financeira teve um salto de desenvolvimento e qualidade.
Como representante comercial da filial Riaal – Produtos de Limpeza e Descartáveis em Geral, com matriz sediada em Ribeirão Preto, “Toninho” fez um patrimônio de “areia”. Tudo desmoronou em sua volta, mas simultaneamente deu a volta por cima e reconstruiu seu “castelo” durante sua trajetória política.
Foi no começo dos anos 90, que “Toninho” descobriu sua verdadeira vocação para a política. Foi eleito vereador em 1992, pela primeira vez. Três anos depois já soltava a célere frase “se tem uma coisa que sei fazer é dinheiro”. A frase foi dita em 1995, na sede da Riaal em Tupã.
Na ocasião, Jota Neves foi apresentado ao vereador, quando tentava lhe entrevistar sobre um dos primeiros processos de ordem fiscal e tributária em que era condenado. Pedro Mudrey Bassan era seu advogado. O fato foi testemunhado pelo então radialista Evaldo Mazeti.
GERAÇÃO DE EMPREGO
Do início dos anos 90 a 2017, o patrimônio do político profissional – Antônio Alves de Sousa, o “Ribeirão” cresceu sem parar. Atualmente seu principal sócio é o filho Alan Gatti, na indústria Flower – Perfumes para Ambientes, localizada na Rua Estados Unidos, em Tupã. Até o ano passado, a mulher do vereador comandava o empreendimento. Outros investimentos de geração de emprego e renda da família são fora do município de Tupã.
Segundo as informações de pessoas próximas de Ribeirão, hoje ele estaria morando em Adamantina, mas mantém residência na Vila Inglesa, recém reformada ao peso de milhares de reais. Nas redes sociais, o luxo da residência foi compartilhado pelos ex-funcionários da Secretaria de Cultura e Turismo, durante um passeio pelo imóvel daquele que detinha o poder político da pasta.
Sua ex-esposa Milene Menegheli atualmente comanda ao lado do filho, uma loja de móveis em Ribeirão Preto. Outras duas unidades instaladas em Franca e Batatais foram fechadas.
RELAÇÕES ESTREMECIDAS
A eventual separação do casal era tema de constante preocupação da ex-secretária de Relações Institucionais do governo de Manoel Gaspar (PMDB), Talitha Fiorini Dalacosta. Apadrinhada por Ribeirão ela foi diretora da TV Câmara.
Com a eleição de Valter Moreno Panhossi para a presidência do Legislativo, Talitha foi conduzida por Ribeirão à Secretaria no governo municipal. “Você é minha protegida”, disse por telefone em dezembro de 2014, do gabinete de Gaspar. Talitha demonstrava-se preocupada com a eleição de Valter Moreno e com seu futuro profissional.
A preocupação com a vida pessoal de Ribeirão foi descoberta durante uma gravação sem que soubesse – alá Joesley Mendonça Batista, envolvido em escândalo de corrupção com o governo federal. Talitha demonstrava inquietação com os rumos do governo, as denúncias sobre irregularidades na educação, e com a vida conjugal do homem forte do governo Gaspar. O blog também foi mencionado.
CONJUGAL
É assim, bem ao ritmo pessoal de Ribeirão que os negócios caminham juntos, num misto de público e privado. Casamento perfeito. Não importam os meios para se chegar aos finalmente. Se o seu problema é pessoal, vamos resolvê-lo. Neste embalo de fidelidade partidária o que importa é a união de esforços para alcançar os mesmos objetivos. Parafraseando o jornalista e político Celso Russomano que já foi do PP, “estando bom para ambas as partes…”.
Pois bem, Ribeirão encontrou a solução para voltar ao Legislativo, mesmo que pelas “portas do fundo”, como garantiu a interlocutores que não queria, quando o blog projetou essa possibilidade.
O Pastor Rudynei Monteiro vai resolver seu problema pessoal, vai viabilizar um salário maior com perspectivas reais de perpetuar-se na vida pública, assim como seu padrinho político de hoje. Ribeirão que se vangloriava de ser eleito e reeleito para seis mandatos – “se o povo não me quisesse, não teria me elegido”, bradava ele. O povo não o quis, não o reelegeu, mas vai ter que o engolir outra vez. Depois do tchau, querido, só nos resta dizer agora – bem vindo, querido!
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