A vacância de poder vai até a hora da posse dos eleitos. Gaspar exonerou também seu secretariado e destacou conquistas do 3º mandato. Durante esta última semana, o já ex-prefeito fez como o ex-ministro Recúpero – “vendeu o que era bom e escondeu o que era ruim”.
No mesmo jornal edição do dia 22, o prefeito ressaltou o fato histórico de ser o primeiro prefeito a ser eleito para três mandatos – 1997/2000, 2001/2004 e 2013/2016. Comemorou conquistas que, segundo ele, ampliam o legado que deixa para Tupã ao final de 12 anos de governo: instalação do Poupatempo; implantação do Instituto Federal; aberturas das creches das 7 às 19 horas; o tíquete alimentação para os servidores e a abertura da primeira Escola de Tempo Integral na EMEF “João Geraldo Iori”.
Deixou de citar várias promessas de campanha que não foram cumpridas. Também não mencionou que fez muita coisa que não prometeu, caso contrário, não teria sido eleito.
TROPEÇOS
Também foi neste terceiro mandato que Manoel Gaspar foi mais infeliz na sua trajetória política. A forma fácil como venceu as eleições sobre sua adversária Lucília Donadelli (PP), apoiada pelo seu sucessor Waldemir Gonçalves Lopes (PSDB) o deixou em êxtase – estado de quem se encontra como que transportado para fora de si e do mundo sensível.
Passada a euforia e conduzido pelo nefasto vereador Antônio Alves de Sousa, “Ribeirão” (PP), Gaspar começou o fim de um percurso político sereno que mais uma vez o levou a conquista do terceiro mandato, como se outra vez fosse renovação, como ocorreu em 1996, após 20 anos da era Jesus/Carlão.
Os 21.001 votos os levaram para a nova era Gaspar/Waldemir. Em meio aos dois -, Ribeirão. Oportunista, tornou-se profissional em fazer política de bastidores ao melhor estilo das velhas e decadentes raposas políticas existentes no cenário brasileiro comparado a Eduardo Cunha, Renan Calheiros, Jader Barbalho, Edson Lobão, entre outros.
Aos 100 dias de governo, Gaspar declarava que “já estava de saco cheio” e, assim, seguiu-se um mandato carregado de possíveis irregularidades, denúncias, tentativa de renúncia, briga política provocada pela “sombra” de Ribeirão (perdeu apoio político da Câmara) e envolvimento da família em decisões chaves do mandato, etc.
Ribeirão aproveitou-se da posição estratégica que ocupou no conceito de Gaspar e ditou as regras “desregradas”. Contratou centenas de ocupantes para cargos em comissão, enfiou na administração Maria Elisa Gaspar (Governo/Administração) e sua comadre Talitha Fiorini Dalacota (Relações Institucionais) e Geraldo Magela (Governo).
Aproximou-se do presidente do PMDB e filho do prefeito Gustavo Gaspar e juntos convenceram o prefeito para contratar Valter Bonaldo Filho (Finanças e Economia), pela manutenção das Secretarias de Turismo e Desenvolvimento Econômico que mais tarde ficariam sob o domínio de Ribeirão.
Gustavo passou a influenciar o pai, como por exemplo, na nomeação de Danilo Aguillar Filho (PMDB) para a Secretaria de Obras. O espaço deixado na Câmara foi ocupado pelo suplente Reginaldo Lima Rodrigues, “Caveira”, da mesma sigla partidária presidida por Ribeirão. O parlamentar ostentava poder sobre o Executivo e o Legislativo e até tentou fazer sucessor no Legislativo, mas encontrou resistência da oposição e rachou o apoio que Gaspar contava no início de seu governo.
OPOSIÇÃO OPORTUNISTA
Gaspar compôs com vereadores opositores oportunistas para eleger Ribeirão presidente da Câmara para o biênio 2013/2014. O edil liderou a gastança nas principais festas no primeiro ano de mandato de Gaspar – Tupã Folia, Tupã Junina e Exapit e no segundo ano com o carnaval de 2014. Os eventos causaram um rombo financeiro em efeito cascata nos cofres públicos.
Motivaram ainda denúncias de licitações fraudulentas, superfaturamento de shows e saques na “boca do caixa” em valores que superam os R$ 600 mil. Tudo está sob investigação do Ministério Público.
Para evitar novas denúncias, o próprio prefeito tomou frente das festas de Momo e nos anos posteriores reduziu custos e até prestou contas do Tupã Folia de 2016: gastou apenas R$ 13 mil. Nos anos anteriores milhões e nenhum evento teve coletiva para anunciar o quanto efetivamente foi gasto.
A gastança também provocou prejuízo moral ao prefeito e de sua família. Seguindo os passos ocultos, Gustavo foi embreando-se com saque na “boca do caixa” e até como causa da inconstitucionalidade da Lei do Prodet – Programa de Desenvolvimento de Tupã. Ele e Ribeirão foram apontados como supostos recebedores de propinas para aprovar subvenção a empresários.
Depois dessa denúncia feita por um grupo intitulado corrupicidas, a prefeitura ficou impossibilitada de fomentar o desenvolvimento de Tupã. A nova lei só foi sancionada em dezembro após aprovação da Câmara.
Outra lei que anistiava de impostos o setor imobiliário para a implantação de novos loteamentos também ficou sob suspeita. Teria funcionado supostamente como aconteceu a venda de Medidas Provisórias editadas pelo Governo Lula para beneficiar o setor automobilístico. Em Tupã há denúncias correntes no município de troca terrenos pelas benesses do município para grupos que aceitaram a eventual proposta indecente pelo enriquecimento ilícito.
COMPRA DE VOTOS
O pleito para a escolha do novo presidente da Câmara que culminou com a eleição de Valter Moreno Panhossi (DEM), em 2014, teve lance de tentativa de compra de votos e de substituição de vereador titular pelo suplente, como última “tacada” para viabilizar o número suficiente de votos para eleger uma Mesa Diretora aliada com os interesses do Executivo.
Por trás de toda armação estava um especialista de bastidor político e um lobista. Em troca de favores financeiros reuniões foram articuladas para comprar votos de vereadores.
Esse fato, segundo o ex-vereador Luis Alves de Souza (PC do B), chegou ao conhecimento de promotores da Procuradoria do Estado e, possivelmente de agentes do GAECO – Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado de Presidente Prudente. Os crimes de corrupção e de desvio de dinheiro público não foram efetivados por motivos alheios à vontade dos corruptores.
O PODER DA NEGOCIATA
A ganância pelo poder e pelo dinheiro envolvia um esquema político, partidário e com lobistas inescrupulosos.
Valter Bonaldo Filho, ex-petista e atualmente filiado ao PMDB – presidiu inclusive o partido em Tupã com apoio do ex-prefeito Waldemir de quem também foi secretário municipal.
Incapaz de gerenciar a própria vida pessoal, Bonaldo surgiu em Tupã no auge do PT no poder. Com estreita ligação com o deputado federal Cândido Vaccarezza viabilizou os primeiros contratos entre a prefeitura de Tupã e empresas sob suspeita de pertencerem a petistas e com envolvimento em pagamento de propina como a Leão Leão (coleta de lixo) e também liderou um consórcio para as obras de micro e macrodrenagem em 2010 e inacabadas até hoje.
A ex-secretária de Obras e Planejamento, Jeane Aparecida Rombi Rosin, teria admitido que a maioria das obras irregulares da administração do ex-chefe do Executivo teria sido executada ATRAVÉS DE UM COMPLÔ eventualmente praticado por Bonaldo e empresas contratadas. Jeane foi anunciada secretária de Planejamento, Obras e Trânsito do futuro prefeito Ricardo Raymundo (PV).
Foi nesse meio tempo que Ribeirão que apoiava Waldemir, aproximou-se de Bonaldo e do deputado Vaccarezza para quem fez campanha. Também foi por desentendimento provocado por interesses obscuros que houve briga entre Bonaldo, o ex-secretário de Governo, Adriano Rigoldi e Ribeirão.
Bonaldo saiu de Tupã excomungando Rigoldi e Ribeirão atracou-se em luta corporal com o secretário dentro do gabinete. Os motivos da briga só foram conhecidos depois. É esse o homem que Ribeirão trouxe para comandar a Secretaria de Finanças e Economia na administração de Gaspar. Gustavo teve participação fundamental na empreitada.
Curiosamente, das 33 obras irregulares herdadas da administração Waldemir e que deveriam ter sido tocadas pelo prefeito Manoel Gaspar, algumas tiveram contratos renegociados por uma equipe gestora da administração -, menos uma: a de retomada das obras de macrodrenagem ficou sob os cuidados de Ribeirão e Bonaldo.
Gaspar não rompeu o contrato e o renegociou sob alegação de que “briga judicial seria mais prejudicial”. As obras foram retomadas em 3 de setembro de 2015 (após coletiva com o ex-secretário de Obras, Danilo Aguillar), mas até hoje o prejuízo só aumentou ao município e aos moradores ribeirinhos.
BURACO NA CAPA
Gaspar chega ao fim de seu terceiro mandato de forma melancólica. Poderia encerrá-lo amistosamente, mas preferiu fazer-se de rogado e deixou sua assinatura numa revista de “prestação de contas” que virou motivo de chacota nas redes sociais. Foi literalmente o último “tiro no próprio pé” – desprotegido pelo escândalo das “papetes” – a “Máfia dos Calçados” que agiu nas prefeituras do Estado de São Paulo e, entre elas, Tupã.
O Ministério Público investiga o caso. Uma empresa de fachada de Promissão, na microrregião de Lins, faturou cerca de R$ 2 milhões em licitações possivelmente direcionadas. Gaspar resumiu a notícia sobre todos os fatos com uma última frase -, “quem bate esquece, mas quem apanha não”. O povo tupãense também há de lembrar-se do quanto sofreu nestes quatro anos. Talvez sinta até saudades, dependendo do desempenho do governo que se inicia neste domingo (1º) a partir das 10 horas.