O poder público tem o dever e a obrigação de alarmar para salvar vidas. A falta de alarme provocou uma tragédia em Brumadinho (MG).
É comum ouvir durante a pandemia de coronavírus, sobretudo, por parte do mandatário da nação de que a grande mídia fica alarmando a população sobre a doença. Para Jair Bolsonaro a Covid-19 também era uma invenção da imprensa. Resultado: pesquisas apontam para mais de 600 mil mortes por conta da subnotificação – de não informar corretamente o número de mortos. Já para os negacionistas, “só morre de coronavírus”.
Outros acreditam que os prefeitos e governadores informam um número de mortos ainda maior para receber verba (impostos pagos pelos cidadãos) arrecadados no município e que devem ser usados exatamente para cuidar da nossa gente.
Por outro lado, assim como pensa o governo federal, há prefeitos que acreditam que não se deve alarmar a população para um problema que todos enxergam. Se de repente não afeta a grande maioria, é preciso considerar os quase 10% da população que contraíram a doença (mais de 15 milhões de infectados) e os quase 420 mil mortos.
Ainda que alguns administradores defendam primeiro a economia, para depois pensar na saúde pública, quando na verdade a pandemia já consumiu mais de R$ 524 bilhões em 2020 dos 604,7 previstos – 2021 – 21 bilhões dos 95,3 bilhões previstos e a população segue adoecendo e morrendo e, com ela, a própria atividade econômica do país.
Não é admissível, portanto, desconsiderar o pensamento do guru de Bolsonaro, Olavo de Carvalho – o homem medíocre não acredita no que vê, mas no que ouve dizer. Não acreditar que a questão de saúde pública leva à falência um país, um estado ou um município é ser medíocre e inconsequente.
A própria Câmara Municipal de Tupã, cassou o prefeito José Ricardo Raymundo (PV), por acreditar que estava sendo ineficiente no combate à dengue. Em 2019 morreram 9 pessoas após uma epidemia da doença em todo o território nacional, quando mais de 700 pessoas perderam a vida no país e houve comoção.
É preciso acreditar que a Covid-19 vai triplicar em Tupã num comparativo com 2020, quando 56 pessoas morreram desde o registro da primeira morte, em 25 de abril e até o dia 31 de dezembro, contra quase 90, nos quatro primeiros meses de 2021. A eventual ineficiência não pode se repetir sob o pretexto de que é preciso manter os empregos.
Não dá para manter os empregos de doentes e muito menos salvar a vida de quem contrai o coronavírus. É momento de reflexão. Pensar no coletivo é se colocar no lugar dos outros. É imaginar que os leitos da enfermaria e os leitos da UTI da Santa Casa não terão espaço para todos que buscam um balão de oxigênio ou para se submeter a um procedimento médico mais complexo, como a intubação.
ALARME
O alarme da tragédia começou soar na China, mas todos imaginavam que o barulho era distante. Nem mesmo quando chegou ao Continente Americano, os brasileiros se deram conta da catástrofe que viveríamos.
O alarme soou na região de Marília, mesmo assim, continuamos praticando a aglomeração irresponsável e com o egoísmo de pseudo patriotismo, sem nenhuma preocupação com a cidadania. Os direitos e deveres de um cidadão devem andar sempre juntos, uma vez que o direito de um cidadão implica necessariamente numa obrigação de outro cidadão.
A falta de um alarme em Brumadinho (MG), resultou numa tragédia quando 270 pessoas morreram e 11 seguem desaparecidas após o rompimento de uma barragem de rejeitos na mina de ferro Córrego do Feijão, em 25 de janeiro de 2019.
Assim, Tupã caminha para enterrar um número de vítimas igual ou superior a de Brumadinho se o alarme não soar na casa dos três poderes. Um alarme ao alcance de “Gil Capoeira” poderia ter salvo a vida dele. Em tempos de pandemia, é preciso alarmar para sobreviver.
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