O criminoso misturou “chumbinho” ao pó de café para possivelmente matar a vítima e “encobrir” um furto seguido de fraude documental avaliada em R$ 12 mil.
O caso está sendo investigado pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Tupã-SP. O autor teria confessado o crime, mas está em liberdade. De acordo com o delegado que investiga o caso, Washington Luiz Muzzi, “não houve flagrante, o acusado tem bons antecedentes e, por conta disso, a Justiça dificilmente decretaria a prisão temporária do suspeito”.
O caso que começou ser arquitetado no dia 22, teve desdobramentos finais nesta segunda-feira (3). Tudo começou quando uma senhora de 76 anos, foi internada às pressas no hospital São Francisco, no dia 27 de maio. A aposentada foi levada para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Recebeu alta no dia 28.
Como a vítima sofre de cardiopatia, doença na qual há anormalidade da estrutura ou função do coração, acreditava-se que essa teria sido a causa da crise de saúde. No dia seguinte após deixar o hospital, a aposentada recebeu a visita de dois filhos e uma amiga e, de repente, todos começaram a passar mal simultaneamente.
Familiares foram chamados e encontraram uma cena aterrorizante – as vítimas em convulsão. Todos foram socorridos ao hospital onde ficaram em observação.
A SUSPEITA
Os sintomas apresentados pela aposentada pela segunda vez teriam sido os mesmos sentidos pelos familiares. Como já havia sofrido do mesmo problema na segunda-feira (27) a idosa entrou em convulsão. O que teria provocado tudo isso? Em conversa com familiares chegou-se a uma única conclusão: no dia do fatídico encontro entre filhos, mãe e amiga todos teriam consumido um café servido pela anfitriã.
Familiares acreditando que o pó de café estivesse contaminado com algum agrotóxico encaminhou o produto para a Vigilância Sanitária, mas por conta do feriado, nenhum exame teria sido feito. Porém, conversando com a aposentada a família ficou sabendo que, a única pessoa “estranha” que teria ido à casa da vítima seria um pintor.
O autônomo é conhecido da vítima e não existiriam motivos para desconfiar dele, porém, a idosa revelou que no domingo (26) o sujeito identificado pelas iniciais D.J., esteve na residência da vítima para concluir um serviço e fez um pedido suspeito.
R$ 12 MIL
Integrantes da família da aposentada foram ao Banco no sábado (1) onde a idosa possui conta e constatou que dois cheques haviam sido compensados. Um de R$ 300,00 e outro de R$ 12 mil. Nesta segunda-feira a constatação de que o cheque de menor valor foi efetivamente compensado, já o de valor maior não. Primeiro porque a caligrafia não batia e como a vítima esteve internada pela segunda vez, sequer foi consultada e o cheque não foi compensado.
Os dois cheques foram depositados na conta do pintor, configurando assim que ele ficaria como principal suspeito dos incidentes que quase provocaram a morte de quatro pessoas da mesma família.
Também no dia de hoje (3) a família buscou o pó de café na Vigilância Sanitária de Tupã e com as informações sobre os cheques os encaminhou à DIG. O pintor D.J. foi chamado na delegacia e negou qualquer envolvimento com os fatos, mas ele não sabia dos cheques. Assim que tomou conhecimento confessou que o cheque de R$ 300,00 havia recebido como pagamento pelo serviço prestado. Já o de R$ 12 mil também confessou que furtou do talonário de cheques da vítima arrancado-o com o canhoto.
No domingo (26) quando esteve na casa da idosa para concluir o serviço pediu para ela preencher um cheque de propriedade dele sob alegação de que não sabia fazê-lo. Sem desconfiar de nada a vítima o fez e o pintor copiou a caligrafia para preencher o cheque que havia furtado no valor de R$ 12 mil.
O CAFÉ MORTAL
Também naquele domingo a aposentada ofereceu café ao acusado e ele recusou a tomá-lo, foi quando a vítima disse que não consegue ficar sem tomar café ao menos duas vezes ao dia. Daí veio à ideia por parte do acusado de colocar veneno conhecido por “chumbinho” no pó de café. O veneno é usado como raticida e só é adquirido no comércio informal, pois a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) baniu do mercado o agrotóxico.
Dois comprimidos do veneno “chumbinho” são suficientes para matar em questão de minutos, tanto um rato quanto um cachorro, por maior que seja. Independentemente dos motivos, o comprador deste produto clandestino irregularmente utilizado como raticida, precisa saber que, além de correr o risco de ser preso, pode ter contribuído para a contaminação do solo e até do lençol freático.
O produto é muito procurado por assaltantes e por vizinhos incomodados com latidos de cachorros. Segundo a ANVISA, o produto é responsável por quase 60% dos 8 mil casos de intoxicação humana relacionados a chumbinho, no Brasil, todos os anos.
Por ser um produto clandestino (sem registro), não possui rótulo com orientações quanto ao manuseio e segurança, informações médicas, telefones de emergência e, o que é ainda mais grave, a descrição do agente ativo.