Como reflexo das irregularidades o povo paga a conta duas vezes. Obras inacabadas ou mal feitas provocam prejuízos incalculáveis ao patrimônio público e ao bolso do cidadão.
Foto: Edilson Miné – cratera na rua Tupiniquins, na Vila Abarca, após temporal em 2013. Obras de micro e macrodrenagem consumiram mais de R$ 12 milhões para evitar essas imagens.
Comissão Parlamentar Especial (CPE) da Câmara analisou apenas 24 das 33 obras deixadas para trás pela Administração do ex-prefeito Waldemir Gonçalves Lopes (PSDB). Das 33, 31 apresentavam indícios de irregularidades e de desvio de dinheiro público. A falta de “planejamento” ou essa ação eventualmente intencional por causa das possíveis várias irregularidades refletem também no desempenho pífio da atual Administração de Manoel Gaspar (PMDB).
Se não bastasse a situação de crise aguda enfrentada por várias Prefeituras brasileiras, a de Tupã ainda sofre com o descaso do passado. É como se você arrumasse um novo casamento com o cônjuge endividado (a) e com a vida pessoal toda enrolada. O descontrole em “realizar” obras, em final de dois mandatos – oito (8) anos com a reeleição só pode ter relação com uma doença sintomática: aquela que é sintoma de outra e leva o paciente à falência múltipla de órgãos. É assim que a Prefeitura de Tupã teve possivelmente parte do patrimônio delapidado. Também após as eleições de 2012, algumas empresas simplesmente “faliram” ou entraram em recuperação judicial como foi o caso da Leão Leão – responsável pelas obras de micro e macrodrenagem.
Num lapso temporal de dois (2) anos, Waldemir “movimentou” no mínimo cerca de R$ 50 milhões. Segundo os dados apurados pela CPE, de fevereiro de 2010 a junho de 2012, portanto, em dois (2) anos e quatro (4) meses, às vésperas das eleições de outubro do mesmo ano, existia uma estimativa de investimento só nas 24 obras que apresentam fortes indícios de irregularidades de R$ 44.413.916,14 (Quarenta e quatro milhões, quatrocentos e treze mil, novecentos e dezesseis reais e quatorze centavos).
A maioria dos contratos com aditivos. Percentual de até 25% a mais do valor inicial da obra. Ainda que as mesmas estivessem como estão: inacabadas, irregulares e até inexistentes. Tem aditamento de valor antes mesmo de o
contrato ser assinado tamanho o desprezo e desrespeito com o dinheiro do contribuinte tupãense. Dos valores acima, constam os repasses de R$ 24.979.999,47 (Vinte e quatro milhões, novecentos e setenta e nove mil, novecentos e noventa e nove reais e quarenta e sete centavos) para obras de micro e macrodrenagem para resolver o problema de inundações em Tupã. Todos sabem o que aconteceu na manhã do dia 6 de abril de 2013, durante aquele forte temporal. É como se nada de investimento tivesse sido feito para amenizar o problema dos moradores de locais baixos da cidade.
Apesar dos supostos investimentos para combater as inundações, nenhum resultado pratico apareceu após a Administração literalmente “enterrar” R$ 12.021.252,65 (Doze milhões, vinte e um mil, duzentos e cinquenta e dois reais e sessenta e cinco centavos). Só nos eventuais aditivos de algumas obras abandonadas desapareceram mais de R$ 1 milhão. Outro R$ 1 milhão “sumiu” em obras que sequer saíram do papel. Outros valores foram se esvaindo em medições de faz de conta, feitas na sua maioria pelo engenheiro civil José Roberto Rasi. Os pagamentos eram feitos, mas com quem ficava o dinheiro ninguém sabe.
Em tese, se houvesse necessidade de aditamento, o dinheiro deveria ser repassado para a empreiteira contratada para fazer a obra. Mas, se isso de fato tivesse ocorrido, qual é a explicação para as empresas abandonarem as obras? Em outras situações existiam recursos remanescentes. A suspeita da Comissão de investigação é que os aditamentos teriam como finalidade uma espécie de caixa dois ou ia mesmo direto para o bolso de alguns. De quem? Só interrogando os empreiteiros ou quebrando sigilo fiscal, bancário e telefônico para devassar esse enigma que corroeu e sangrou os cofres públicos de Tupã, numa verdadeira operação praticada por sanguessugas da rota caipira da corrupção com tentáculos e conivência “federal” de esferas de grosso calibre. Só fisgando um delator para comprovar o maior esquema de fraude que Tupã já vivenciou.
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