Jeremias Chagas, cujo orgulho é dizer “sou irmão do Tubinho” vira pivô de grupelhos políticos. Não quer ler, ouça o texto
O nome acima é bíblico e sinônimo de um homem de origem humilde e de aparência incapaz de fazer mal a alguém. Talvez, só a ele mesmo. É possível que ao longo de suas décadas de vida tenha também acreditado piamente nessa tese.
Morador de um imóvel simples localizado na Rua Patrocínio Monteiro, sem contato nenhum com a modernidade digital – aplicativos de celular ou redes sociais. Sai bem cedo e retorna à noite em sua bicicleta motorizada.
“Muitas vezes passa a maior parte do seu tempo sentado em frente ao estabelecimento de seu filho, como um guarda à moda antiga. Alertamos ele de que havia caído numa cilada política, mas foi convencido a assinar o pedido de afastamento do prefeito”, disse um conhecido seu, se referindo ao assunto da sessão da Câmara, na noite desta segunda-feira, dia 5.
E foi assim que, de repente, Jeremias Chagas – um ex-funcionário público municipal que tem orgulho em dizer “sou irmão do Tubinho” se transformou num personagem central das principais discussões políticas envolvendo a sociedade de Bastos (SP) sacudida pela repercussão nacional do discurso de intolerância religiosa propagado pelo pastor evangélico Sérgio Fernandes. Sermão intolerante de pastor tem repercussão nacional
O religioso tentou chamuscar a imagem de Nossa Senhora Aparecida – chamando-a de “Satanás fantasiado de azul”, queimou a língua e colocou por água abaixo sua pretensão de coordenar a campanha do vereador Kleber Lopes (MDB), acusado de apoiar o sermão que destilou ódio no templo “Vida Nova”. Pastor chama imagem de Nossa Senhora de “Satanás fantasiado de azul”
Por trás da cortina da boca de cena da “guerra santa” que foi travada entre “evangélicos” e católicos apareceu outro prefeitável – Alexandre Granado (Podemos). Para o grupo do vereador, foi granado que se aproveitou da desgraça alheia para arrastar seu concorrente. Em comum, os dois já disputaram o mesmo “leito hospitalar”.
São esses grupos que se digladiam pelo poder, mas não corajosos suficientes para usarem o próprio CPF. Granado já foi derrotado pelas urnas nas eleições para vereador em 2008, a vice-prefeito, em 2012, como candidato a prefeito em 2016 e em 2020.
Não podemos fazer da política que tem como definição “a ciência moral normativa do governo da sociedade civil”, num porão estercado de excremento de frangos.
É desprezível a falta de ética no serviço privado e, sobretudo, no serviço público, mas não podemos admitir e apostar no “quanto pior melhor”.
Assim é ordinário para o “traidor” da ética, o uso da religião, da boa fé e dos bons costumes para fins especificamente eleitoreiros – sem que sua trajetória seja permeada por ações efetivas junto a sua comunidade. “Guerra Santa”: discurso de pastor atrapalhou planos políticos
Às vésperas das eleições municipais querer justificar através de um “laranja” a ineficiência nos quatro anos de mandato, é provar quão incapazes foram os legisladores opositores que se esvaiam como chorume pelo ralo de seus gabinetes – por isso, o uso indevido do CPF do ingênuo Jeremias.
ATAQUES PESSOAIS
A política em Bastos de fato foge um pouco dos meios convencionais e os ataques pessoas se tornam mais comuns em ano eleitoral. O município é “dominado” pela colônia japonesa que detém grande parte do poderio econômico da maioria da população de pouco mais de 20 mil habitantes, cujo um terço ainda reside e trabalha na zona rural.
Assim, o município é constituído basicamente de “três públicos”. Os muito ricos – granjeiros e industriais, o público que reside em propriedades rurais, por conta do trabalho na avicultura e os residentes no perímetro urbano. Esses são os públicos alvos.
Ninguém consegue chegar ao poder sem atingir os três públicos. O prefeito Manoel Rosa (MDB) foi um dos poucos que alcançou esse nível, mas antes, traçou sua trajetória como juiz de casamentos por 15 anos e agente do Ministério do Trabalho, desde julho de 1983.
Na política estreou como vereador em 1989/1992. Em seguida foi reeleito mais 5 vezes para os períodos 93/96, 97/00, 01/04, 09/12 e de 2013/2016. Em 2016 foi eleito prefeito para mandato de 2017/2020 e reeleito para 2021/2024.
Dizer isso, não significa menosprezo a carreira de ninguém, mas é a convicção de que o sucesso vem com trabalho, longos anos de dedicação e, sobretudo, com uma folha de serviços prestados. É possível que ainda assim, a sociedade talvez não reconheça na mesma proporção, mas também faz parte da dinâmica política.
TUBINHO
A frase “o poder embriaga e fascina” vale para todos. Aos que tentam chegar ao poder a todo custo e, aqueles que chegaram – discorre sobre o tema José Herval Sampaio Júnior, mestre e doutorando em Direito Constitucional pela UFPR, especialista em Processo Civil e Penal, em artigo publicado no portal Jusbrasil.com.br.
Em tempo, Jeremias Chagas é irmão do saudoso ex-prefeito Natalino Chagas, o “Tubinho” (foto). Ocupou a chefia do Executivo bastense por três mandatos – 1989/1992, 2000/2004 e 2005/2008. Indiscutível que o povo não elege o candidato a prefeito se não acreditar no seu trabalho.