A convivência interpessoal gera compromisso com a comunidade.
Neste domingo, dia 2, o eleitor brasileiro vai às urnas para eleger o presidente da República, governadores, senadores, deputados federais e estaduais.
Com a polarização para a eleição majoritária, a maior preocupação dos municípios é com a eleição para deputados, afinal, são eles que intermedeiam a busca de recursos para as prefeituras.
Neste quesito, o relacionamento entre o parlamentar e os agentes políticos, e estes com sua comunidade, conta muito na hora do voto. Afinal, relacionamento gera compromisso.
Deputados estaduais e federais que encheram as urnas de votos em 2018 viraram as costas para municípios do interior.
PEREGRINAÇÃO
O prefeito de Tupã Caio Aoqui (PSD) e o vice-prefeito Renan Pontelli (PSDB) confessaram ter feito uma peregrinação por gabinetes de parlamentares em busca de apoio, mas sequer foram recebidos, por exemplo, pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), que obteve em Tupã 2.876 votos, seguido de Joice Hasselmann, com 1.902.
A deputada estadual Janaina Paschoal, a mais votada em Tupã em 2018, com 3.725 votos, até recebeu a dupla tupãense, mas confessou que “sequer sabia onde ficava Tupã, não pediu voto no município e, depois, o seu compromisso já estava empenhado com outras cidades”, com as quais se relaciona.
Os eleitores tupiniquins foram simplesmente ignorados. É o relacionamento que estabelecemos com a família, vizinhos, na escola, colegas de trabalho, políticos, entre outros, que gera confiança e credibilidade.
Essa foi a tese apresentada para boa parte do eleitor tupãense visando sensibilizá-lo, em sentido mais abrangente, sobre à sociedade organizada.
– Onde quer que haja duas ou mais pessoas, haverá a necessidade de definir regras de convivência, limites de ação e deveres comuns. A política acontece justamente no ato de existir em conjunto.
Dessa forma, a origem da política remonta à participação na comunidade, à vida coletiva. Bem diferente do que se costuma pensar sobre a política como algo limitado aos políticos profissionais e longe do nosso cotidiano, define o jornalista Luis Andreassa, formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e pós-graduado em Ciência Política pela FESP-SP.
ANIMAL POLÍTICO
O filósofo grego Aristóteles definiu o ser humano como um animal político, ou seja, um ser que inconscientemente busca a vida em comunidade, porque suas necessidades materiais e emocionais só podem ser satisfeitas pela convivência com outras pessoas.
Além disso, o animal político se diferencia dos outros bichos pela sua capacidade de se comunicar em nível complexo, diferentemente de outras espécies. Por meio da linguagem, o humano pode trocar ideias, imaginar o futuro e criar regras para compartilhar o mesmo espaço.
A política, para Aristóteles, começa no seio familiar, na convivência entre familiares, e depois se expande para o resto da sociedade. A não ser que você seja um eremita (um indivíduo que foge completamente do convívio social), não conseguirá escapar da política.
– Vivemos atualmente um processo de fragilidade em nossas relações sociais na internet que promove incertezas e dúvidas em nossa existência, observa em artigo, o graduado em história Fabrício Santos.
Os deputados escolhidos e mais votados em 2018 foram eleitos dentro desse conceito de relações sociais na internet e aplicativos – sem nenhuma convivência com o mundo real de Tupã e seus eleitores, e o resultado – vergonha.
Segundo o sociólogo Zygmunt Bauman, o mundo atual vive um momento de frouxidão nas relações sociais. Isto quer dizer que, com o avanço da tecnologia no século XXI, as pessoas tendem a se relacionar mais por meio de aparelhos eletrônicos do que pessoalmente.
Mas essa tendência virtual não pode e não deve ser aplicada no relacionamento político – já distante da nossa realidade nua e crua de uma cidade do interior do Brasil.
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