Faltou ferro na laje e a estrutura ruiu sobre os trabalhadores. Um engenheiro tupãense alertou para o risco de desabamento 15 minutos antes da fatalidade. A perícia deverá determinar as causas do acidente. Laudo deverá ficar pronto em até 30 dias. Os corpos de Valderramas e Alves serão sepultados às 11 horas, no cemitério de Herculândia, e às 17 horas no cemitério Municipal de Bastos, respectivamente.
O que chamamos de mera coincidência para alguns fatos que ocorrem no dia a dia, dependendo da situação é possível afirmar a existência da fluência de algo para um fim comum, como por exemplo, evitar um acontecimento trágico como o que foi registrado na manhã de ontem (27) em Herculândia.
NÃO VAI CAIR
“Sai de baixo que vai cair”. Foi com está frase que um engenheiro tupãense alertou o amigo e engenheiro responsável pela obra, Sandro Marcos Valderramas, e um dos responsáveis pela instalação da laje do prédio comercial. Este profissional é um dos sobreviventes. O outro construtor, Daniel Pereira Alves, que era morador de Bastos, morreu no local ao lado de Valderramas. O construtor disse para a testemunha ocular que “não existia risco de desabamento”. “Isso não vai cair em cima de mim!”, profetizou o engenheiro tupãense.
Em seguida, o engenheiro tupãense e Valderramas foram para o escritório nas proximidades da construção. No local, ambos voltaram a conversar sobre o risco de desabamento. Às 11 horas, a testemunha seguiu para Tupã para pegar os filhos na escola, no momento em que chegava em Herculândia, Daniel Pereira Alves.
Valderramas, o construtor sobrevivente e o também construtor – Daniel que havia chegado a poucos instantes retornaram ao prédio em construção para nova vistoria. Os três subiram na laje, desceram e foram para o interior do barracão, e de repente houve o desabamento.
No mesmo instante o telefone celular do engenheiro tupãense tocou e o interlocutor informava sobre o acidente – “o prédio caiu”. A tragédia estava consumada.
Rapidamente, o engenheiro deixou seus filhos na casa de parentes e se deslocou para Herculândia. Mesmo consternado com a morte do amigo, o olhar do engenheiro civil detectou a possível causa do desabamento: falha no cálculo estrutural. Errar cálculos comprometem a qualidade de uma estrutura.
Em outras palavras -, faltou ferro nas vigas da laje, e com o peso para um vão de 8,40 metros de uma área total de aproximadamente 220 metros quadrados, a estrutura dobrou puxando parte das paredes para dentro do prédio.
O SOBREVIVENTE
Depois de se restabelecer do susto com a fatalidade previsível, ontem mesmo à noite, o engenheiro tupãense explicou detalhes sobre o que ouviu do engenheiro Valderramas, e o que ele próprio constatou “in loco”, antes e após o acidente que matou duas pessoas e deixou outras duas feridas. O sobrevivente preferiu não se identificar.
“Como disse a você, para um vão de 8,40 metros, as betas (treliça da laje) precisam ter mais algumas barras de ferro na fabricação. Por falta dessas barras de ferro que ficam na parte inferior da treliça a mesma rompeu e desabou. Outro detalhe foi a falta de malha de aço na capa de concreto para a amarração da laje”, destacou o engenheiro que alertou para o risco iminente de desabamento.
A TRAGÉDIA
Por volta das 10 horas da manhã, o engenheiro tupãense tinha um serviço a ser realizado em Herculândia – um desmembramento de uma outra obra com o próprio Sandro Valderramas e, por isso, o encontro dos dois profissionais no escritório da vítima que fica em frente da construção que desabou na esquina da Avenida Castro Alves com Rua Princesa Isabel.
No final de semana, o prédio havia apresentado alguns estalos – a laje estava trincando. Sandro Valderramas, 46 anos, chamou o engenheiro tupãense para verificar a situação da obra, quando houve a constatação e o alerta “sai de baixo que vai cair”.
Na hora do fato, sete pessoas estavam no local. O engenheiro tupãense saiu após o fatídico diagnóstico e ficaram o engenheiro Sandro Valderramas, o construtor Daniel Alves, 33 anos e outros quatro profissionais que vistoriavam as obras. O pedreiro Ailton Vieira de Melo é uma das testemunhas.
Em entrevista à imprensa disse que sobreviveu por que estava numa área coberta dentro do barracão ao lado de um companheiro. Quando a laje desabou, Ailton e o amigo escaparam ilesos. Outros dois colegas de trabalho sofreram ferimentos e foram encaminhados à Santa Casa de Herculândia, mas não correm risco de morrer.
Não tiveram a mesma sorte, o engenheiro Sandro Marcos e o construtor Daniel Alves. Momentos antes do desabamento estiveram sobre a laje verificando os possíveis indícios que causaram os estalos na estrutura durante o fim de semana. O barracão estava em construção havia um mês.
Ainda não há informação oficial, mas o material utilizado na construção da laje teria sido adquirido em Birigui, segundo as informações.
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