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A BANALIZAÇÃO DA VIDA

 

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Por: Jesus Guimarães

Quando, de passagem, vejo na TV o Datena e seus seguidores esbravejarem indignados contra a violência cotidiana, ainda que por mera obrigação de conseguir boa audiência, não posso deixar de considerar as origens desse mal. São múltiplas e, além disso, não raro estimuladas ao invés de evitadas ou combatidas.

Os seres humanos somos dotados de alguns mecanismos de defesa, sobretudo os machos, naturalmente mais fortes e agressivos. Quanto mais hostil for o ambiente de nossa criação, maior será o desenvolvimento desses recursos. Dessa forma, a pobreza e as desgraças predominantes nas periferias das grandes cidades, contrapostas à riqueza do comércio central e dos bairros nobres, constituem clima ideal para a exacerbação desse traço cultural.

Cabe considerar também o enorme peso que o exemplo de uma geração para outra tem nesse processo. Pais bêbados e abrutalhados tendem a criar filhos com os mesmos defeitos. Tecidos sociais esgarçados costumam produzir jovens inseguros, predispostos à violência.

E como agravante definitivo acresce a esse quadro um novo fator: o menosprezo à vida sistematicamente sugerido pela mídia eletrônica, ora acessível a quase todas as pessoas sem reserva de faixas etárias ou estratos sociais. Filmes e games preferidos por jovens e crianças apóiam-se na força física e no poder de destruição das máquinas de guerra para transformar em sanha assassina o que deveria ser uma simples disposição para o jogo e seus desafios.

Hoje, não se vendem nas lojas, como antigamente, pistolas ou espingardas de brinquedo, em compensação, os jogos eletrônicos armam os garotos com canhões a laser capazes de pulverizar seus inimigos como se fossem flocos de neve. Isso não bastasse, os fazem dirigir carrões em pistas de velocidade onde os concorrentes são eliminados com um simples chega-pra-lá, como se fossem apenas máquinas e nelas não existissem vidas a serem respeitadas. No trânsito real, mais tarde, este poderá ser, ainda que inconsciente, o entendimento do novel piloto.

Nesses dias, a página da UOL anunciava um “game” cujo protagonista chama-se Nerd Vingador. Trata-se de um aluno que, por ser muito estudioso, é zoado por seus colegas de classe. Mune-se de uma metralhadora super poderosa e volta à escola para realizar sua vingança. Quanto mais colegas eliminar, incluindo policiais que surgirão à sua frente, maior será sua pontuação.

Propostas absurdas como essa são cometidas livremente, a todo instante, por diversões eletrônicas e por programas televisivos disponíveis sem restrição, vinte e quatro horas por dia. Depois, quando alunos invadem universidades e fulminam seus amigos, jovens impúberes executam pais e avós, infratores mirins atiram em cidadãos escolhidos ao acaso para assaltar, motoristas enlouquecidos atropelam pedestres em calçadas ou ainda torcedores de futebol lincham seus rivais, a maioria, distraída, se pergunta: mas, por quê?

Parece que ninguém percebe ou não quer perceber que, a despeito de tantos outros motivos, temos significativa parcela de culpa quando permitimos que a mídia, livre de controle legal, ensine a nossos filhos e a nós mesmos o mais completo desrespeito à vida. De propósito ou não, vai-se aos poucos promovendo a “glamourização” da truculência e, por conseguinte, do próprio crime.

Tem-se, assim, a vida humana tomada como algo qualquer, banalizada ao extremo, de todas as formas, tanto pelos que vivem à margem da sociedade, como por ela própria.

A barbárie é o contraponto da civilização. Resta saber para onde queremos ir.

Fontezuguim.blog.uol.com.br

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