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Secretária de Bastos pode estar recebendo Bolsa Família irregular

Cruzamento de dados aponta para ilegalidade no controle do CadÚnico e da Prefeitura. É o terceiro caso envolvendo secretárias da administração em irregularidades. Ouça texto

A secretária interina de Turismo e Desenvolvimento Econômico de Bastos (SP), Ketlley Priscila Nagaoka, aparece na relação de inscritos no programa do governo federal Bolsa Família, mesmo após sua nomeação em cargo comissionado em julho de 2022.

Ela foi inscrita ainda no Auxílio Brasil e passou a receber o benefício em janeiro do mesmo ano, e o Portal da Transparência confirma esse fato.

Atualmente,  o governo de Luís Inácio Lula da Silva (PT) começou a pagar o programa e o renomeou de Bolsa Família no novo formato, de 600 reais de piso mais 150 reais por criança de zero a 6 anos, mas pretende retirar do programa 1,5 milhão de famílias que recebem o dinheiro sem ter direito a ele, como pode ser o caso registrado em Bastos.

O presidente Lula tenta eliminar fraudes que explodiram no programa enquanto ele foi apresentado com a marca do governo Jair Bolsonaro (PL).

Em Bastos, Ketley que é separada e tem dois filhos, estava desempregada quando foi cadastrada pelo Cadastro Único (CadÚnico), através da Secretaria de Assistência Social do Município.

Considerando que de fato Ketley não deveria seguir recebendo o benefício, uma assistente social teria a possível obrigação de notificá-la, bem como, a própria bolsista deveria ter comunicado a sua contratação para um cargo em comissão e abrir mão do auxílio.

A Portaria 7.129/22, primeiro a nomeou como assistente de Secretaria, enquanto a Portaria 7.510/23 a nomeou secretária interina de Turismo, enquanto durar o afastamento por gravidez da titular da pasta, Camila Regina Pascotto Luiz.

Ao menos quatro servidores constam na lista de beneficiários do Bolsa Família, conforme documentos de abril, mas isso não significa que os demais estariam em situação semelhante à de Ketlley, conforme afirmam pessoas da própria administração de Manoel Rosa (MDB).

BENEFÍCIO SUSPENSO

O blog recebeu a denúncia em 13 de abril e, de lá para cá, dezenas de contatos foram feitos para apurar a veracidade ou não dos fatos, mas essa investigação pode ter resultado na suspensão do pagamento do Bolsa Família para a secretária interina.

A reportagem teve dificuldade para contatar alguns informantes que atuam no Paço Municipal, pelo fato de o telefone (14) 3478-9800 não estar operando devidamente. Segundo as informações em 26 de abril, a linha estaria “cortada” desde o final de janeiro.

“Até março, só recebia ligação, mas esse mês (abril) nem recebe e nem faz ligação”, garantiu o interlocutor que pediu anonimato.

A última informação obtida nesta segunda-feira, dia 8, é a de que o benefício do Bolsa Família que vinha sendo pago mensalmente à secretária Ketlley deverá ser suspenso, após intensos rumores de que o blog estava investigando o caso.

OUTRO LADO

Procurada pela equipe, Ketlley foi atenciosa e demonstrou preocupação com seu futuro na administração. Disse que veio do Japão há pouco tempo com dois filhos de 7 e 11 anos, depois de um casamento falido.

“Fui vítima de violência doméstica e minha família me trouxe de volta e me acolheu. Não consegui emprego nem para apanhar ovos nas granjas, até que fui contratada como bolsista, para trabalhar por 4 horas como secretária do Poupatempo e receber mensalmente R$ 540,00. Lá me conheceram e me contrataram pela prefeitura como assistente da secretária de Turismo e Desenvolvimento Econômico”, disse ela.

Por outro lado, Ketlley negou que fosse a secretária interina da pasta. “Eu continuo como assistente. Aliás são três pessoas que estão como assistentes da secretária da pasta – uma para o Turismo, outra para o Desenvolvimento Econômico e uma terceira para Eventos”, disse.

Como assistente Ketlley contou que seus vencimentos eram de cerca de R$ 2 mil e que a lei permitia que continuasse a receber o Bolsa Família. “Eu fui informada a semana passada de que o meu salário vai passar para R$ 3 mil e pouco e que, por isso, não terei mais direito ao benefício”.

Durante o diálogo foi possível perceber de que a funcionária pública consultava alguém sobre os valores de seus salários. Segundo ela, a informação de que o auxílio será cortado foi informado por uma assistente social.

BODE EXPIATÓRIO

Ela também usou palavras do próprio prefeito Manoel Rosa, durante audiência com o editor do blog, quando fez referência à expressão “bode expiatório”, numa alusão de que o objetivo das denúncias são atingi-lo, mas sem levar em consideração as possíveis irregularidades na administração.

As palavras “bode expiatório” fazem parte da nossa linguagem comum e são aplicadas em qualquer situação em que um inocente é responsabilizado por uma culpa que não tem, mas não é bem isso, que anda acontecendo em Bastos.

TRÊS MULHERES

Também não são coincidências as denúncias de irregularidades envolvendo três mulheres, ocupantes de cargos em comissão, do alto escalão da administração.

A primeira foi de desvio de recursos da Covid-19, sob investigação da Justiça Federal e por tráfico de drogas praticados pela ex-diretora de Saúde, Amanda Berti.

Ela, o namorado e o motorista que a chamava de patroa, foram condenados em primeira instância pelos crimes de associação para fins de tráfico de drogas. Saiba mais: Ex-secretária de Bastos, Amanda Berti é condenada por tráfico

O segundo caso é o de um veículo irregular, apreendido e liberado duas vezes pela Ciretran, através do Poupatempo, envolvendo a atual diretora de Saúde, Vanessa Persigilli.

Os casos estão sob investigação da Ouvidoria do Detran-SP. O Ministério Público não se manifestou. Saiba mais: Veículo irregular de Bastos foi liberado duas vezes pelo Detran/Poupatempo

Agora vem o terceiro caso, o de pagamento de benefício, em tese indevido à secretária interina de Turismo.

A irregularidade poderá determinar a devolução do numerário recebido dos cofres da União, ainda que não tenha havido a intenção de praticá-la.

De acordo com o Portal da Transparência, o salário de secretária do Turismo e Desenvolvimento Econômico é de R$ 5.564,00, com exceção do contracheque de secretários/gestores de Educação e Saúde, cujo valor é de R$ 8.453,00.

Leia também: Regularizado veículo apreendido e liberado pelo Poupatempo de Bastos

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